segunda-feira, 28 de maio de 2018

Capítulo 1

- Rodoviária de Uberlândia, apenas embarque e desembarque. - avisou o motorista não impedindo que alguns passageiros descessem do ônibus para "tomar um ar" - pessoal, se vocês descerem vamos demorar um pouco mais para chegar no destino... - mais uma vez, o coitado foi ignorado.
Levantei, me despedi do pessoal que estava a mais de 15h comigo e desci. Fui pegar a minha mala que estava na parte de baixo do ônibus e recebi um abraço caloroso da senhora que sentou na minha frente dentro no ônibus. Havíamos nos tornado melhores amigas nas últimas 4 horas.
- Te desejo tudo de bom princesa! Sucesso nessa sua nova jornada, que Deus te abençoe sempre! - falou enquanto me abraçava
- Obrigada!! Muito obrigada!  - sorri em meio ao abraço. Nos soltamos e ela foi até a lanchonete. Entreguei a numeração da minha bagagem ao motorista e ele me entregou a mesma. - boa tarde, onde pego um táxi? - perguntei a uma funcionária da viação na qual eu havia acabado de desembarcar.
- Logo ali, na saída da rodoviária - apontou para um grupo de taxisitas e eu agradeci.
Caminhei até a saída e só identifiquei qual era táxi por conta da bandeirinha em cima. Preciso lembrar cada vez mais que não estou na Bahia, e sim, em Minas Gerais.
Fui aprovada na Universidade Federal de Uberlândia e irei cursar engenharia elétrica. Me chamo Eduarda Castanho, tenho 20 anos, sou soteropolitana e é a primeira vez que vou morar em outro estado... E sozinha! Aluguei um apartamento próximo a universidade para ficar enquanto recorro as bolsas auxílio da universidade. Falando em apartamento, fiquei de ligar para a corretora que me ajudou na escolha do apê assim que chegasse em Uberlândia, e foi exatamente isso que eu fiz assim que entrei no táxi e passei o endereço pro motorista.
- Alô?!
- alô, Lilian? Sou eu, Eduarda. A estudante da UFU, de Salvador...
- Ahh, oi... - falou num tom hesitante
- Eu já cheguei em Uberlândia... Como faço pra te encontrar e pegar a chave?
- Então... Olha Eduarda, teve um probleminha... - falou pausadamente. Eu não respondi, apenas esperei que completasse a frase - houve um erro de comunicação... um outro corretor que trabalha para essa mesma construtora alugou o seu apartamento.
- mas como assim??? Eu já havia deixado pago, o contrato assinado... - falei incrédula. Pra onde eu iria?
- Eu sei, eu sei... Você está certa! Mas o inquilino para qual ele alugou queria pra já, e eu ainda não havia dado baixa no seu contrato no conselho dos corretores da construtora...
- Tá Lilian, quero saber como é que eu fico?! Ou melhor, onde eu fico?! Não tem como transferir o inquilino pra outro apartamento? Outro prédio da mesma construtora? Eu to no meu direito, ja deixei tudo certo.
- Eu sei, Eduarda... olha só, podemos marcar de nos encontrar agora?
- Estou no táxi - falei impaciente e preocupada
- Pede pra ele ir no Restaurante Estancia do Cupim, te espero na entrada. Pode deixar que pago o táxi. Chego lá em cinco minutos, tudo bem?
- OK - desliguei o celular - moço, não irei mais pra esse endereço, pode me deixar no restaurante Estancia do Cupim
- Claro. - respondeu gentilmente - deu ruim aí?
- Pegaram meu apartamento!
- Como assim? - perguntou e eu expliquei o ocorrido. - mas isso ta errado, moça. Você pode processar eles fácil, fácil. Ocê ta com a cópia do contrato e recibo de pagamento em mãos? - respondi que sim - meu sobrinho é advogado, posso falar pra ele do seu caso...
- obrigada, mas vou ouvir o que a corretora tem pra me falar
- qualquer coisa, ocê me avisa.
Não demorou muito e chegamos no tal restaurante. Lilian ja estava a minha espera com seu traje elegante, como sempre. Alta, magra, cabelos pretos com corte chanel, calça jeans boca de sino e uma blusa sem manga. Quando me viu sair do carro, se aproximou, pagou o taxista que me entregou seu cartão e falou "qualquer coisa, me liga" , tirou minha mala do porta-malas e seguiu
- Oi Eduarda, vem, põe a mala aqui no meu carro. - coloquei a mala no carro dela e entramos no restaurante - quer pedir alguma coisa?
- Não, dona Lilian, só quero saber onde vou morar, e vou logo avisando, eu quero AQUELE APARTAMENTO, nenhum outro. Ja foi difícil encontrar...
- Calma, eu tenho uma proposta para te fazer... esse rapaz, também é estudante da UFU, está morando aqui há  2 anos e tem a mesma faixa etária que você... no momento, não temos apartamentos disponíveis, está previsto um para daqui a 1 mês, 1 mês e meio, por aí. Então você poderia dividir com ele... - a interrompi
- E o meu dinheiro??
- Então, nós vamos te reembolsar, pagar uma indenização por todo esse constrangimento. Quando passar esse período, ele esvazia o seu/dele e vai pro outro, já que você fechou o contrato primeiro
- Qual o valor da idenização?
- 25 mil durante 3 meses, mais os 6 mil referente aos 3 meses de aluguel que ja deixou pago. - me controlei pra não cair da cadeira. 75 mil pra dividir o teto com um cara durante quase dois meses? Fechado! Só espero que ele não seja nenhum psicopata ou pervertido - assim, vocês "esquecem" esse mal entendido. O que me diz?
- Tudo bem... Não vou processar vocês - ela suspirou aliviada - quando recebo o reembolso?
- Hoje mesmo será depositado a primeira parte deste mês na sua conta.
- OK. Ele já sabe?
- Sim. Por ele, ta tudo tranquilo.
- ok.
- Fechado então. Aqui está nosso contrato. - falou Retirando um envelope branco de  dentro da sua pasta - Pode levar pra casa, ler calmamente e assinar. Qualquer dúvida, pode entrar em contato comigo.
Saímos do restaurante. A Lilian me deixou na porta do prédio e aguardou eu entrar. Interfonei pro meu mais novo colega de quarto que demorou pra atender.
- Quem é? - disse com uma voz de sono. Relevei pelo fato de ser 16h e estar um friozinho bem gostoso em Uberlândia
- Eduarda, vou dividir o apê contigo.
- ah sim, abriu? - ouvi a tranca do portão se abrir. Respondi que sim, dei um tchauzinho pra Lilian e entrei no prédio. Chamei o elevador e aguardei. O prédio tem 8 andares. Ele não é enorme. É bem típico dos prédios da região, pelo fato da maioria dos moradores serem universitários, deu origem aos nomes dos edifícios. O meu se chama Morada Universitária 367 e irei morar no ultimo andar, apartamento 801.
O elevador chegou, apertei meu andar, Fechei a porta e subi. Chegando lá, a porta do apê ja estava encostada. Nossa, que educado, nem me recepcionou, pensei. Entrei arrastando minha mala enorme ( coisas pra cinco anos em MG) e fui até o quarto onde eu iria ficar. Pelo menos ele foi sensato e não ficou com a suíte. Tranquei a porta. Sentei na cama e quase fico lá até o dia seguinte de tao cansada que estou.
O apê já era mobiliado, o que aumentou consideravelmente o valor do aluguel, mas foi o mais barato que encontrei. Tem uma sala não muito grande, sem divisorias pra cozinha, apenas uma parede pequena para esconder uma pia e a maquina de lavar, obviamente ali é a área de serviço. Dois quartos, um com suite, banheiro social e só. Fica a uns 5 minutos da UFU, posso até vê-la da janela do meu quarto.
Abri  janela do quarto e decidi ir tomar um banho (estava precisando urgentemente), vesti um short jeans, uma regata Azul e coloquei um casaquinho. Como venho da Bahia, qualquer 23° ou menos, é muito frio. Depois dessarrumei a mala, arrumei minhas coisas no guarda-roupa, forrei a cama e depois de tudo em ordem, abri a porta para ver se meu colega de ape ja havia dado as caras. Saindo do quarto, notei que a porta do quarto dele estava fechada ( é de frente pra minha porta, e entre as nossas portas, do lado esquerdo tem a porta do banheiro social). Virei a direita e fui até a sala, tinha um rapaz barbudo, com cara de ter uns 23 anos sentado no sofá mexendo no celular. Levei um sustinho.
- ah, oi - falei acenando timidamente e colocando uma das mãos no bolso de trás do short logo em seguida. - me chamo Eduarda... Ah, já te falei isso... É que quando eu cheguei eu não te vi, você deixou a porta aberta... - ele sorriu fazendo seus olhos diminuírem, tao fofo
- prazer te conhecer, Eduarda - levantou, apertou minha mao e me deu um beijo na bochecha. Nossa, meu coleguinha é bem cheirosinho. - me chamo Gustavo, mas não sou eu quem moro aqui
- ahhh, não? Como assim... - ouvi o barulho da porta do quarto abrir, me virei e dei de cara com o meu verdadeiro coleguinha... E que coleguinha. Ele estava sem camisa exibindo todo o seu abdômen dividido no qual me deixou dividida entre olhar para seus lindos olhos meio mel, meio verde, não sei bem qual cor que é, ou pro seu físico maravilhoso.



- esse é - disse Gustavo - Rafael



- e aí - disse Rafael acenando com a cabeça e indo arrastando o chinelo em direção a geladeira. Cara de ressaca do dia anterior.
- oi, sou Eduarda...
- é, eu sei. A dona oficial daqui. - falou abrindo uma garrafinha de água e bebendo. Fiquei sem saber o que falar depois de tamanho desinteresse dele em relação a mim, que mal educado. Gustavo percebeu o clima e resolveu dar uma força.
- como foi a viagem, Eduarda?
- Ah, foi bem - me virei pra ele - cansativa! - dei de ombros sorrindo de canto
- imagino, mas e aí, preparada pra ficar longe de casa?
- nem um pouco - rimos
- é assim mesmo, depois se acostuma. Eu sou de São Paulo, moro aqui há 2 anos. Na minha primeira semana eu queria ir embora, jurava que não ia aguentar, agora é difícil de voltar pra casa - riu - só vou mesmo quando não tem jeito, ou seja, quando minha familia não vem.
- nossa... Estuda na UFU também? - ele assentiu
- sou estudante de engenharia civil, Sou da mesma sala que o Rafa - apontou com a cabeça pro seu amigo mau humorado, olhei de relance pra ele que estava mexendo no celular, encostado na pia.
- hum.. Legal
- você vai gostar daqui, é tranquilo. Depois que se enturmar então, moleza
- assim espero...
- ow, tu vai la pro bar do Geraldo hoje? - falou Rafael pro Gustavo
- mano, to muito afim não, queria mesmo é ficar em casa
- ah, para. A Bia vai, Fernanda ... Ce tem que ir
- por quê? - perguntou Gustavo
- cê tem que ta la pra pegar a Fernanda caso nada der certo - babaca, era só o que me faltava. Falei mentalmente
- não, esse papel é seu - disse Gustavo. Eles riram - ela ta namorando agora, ce viu? Altas declarações
- ah mano, pára.. tu acha mesmo que isso vai render? A mina nunca namorou na vida, por isso enche as redes de fotos, textoes, essas paradas...
- vou nessa - falei me despedindo deles
- falou- disse Rafael
- ue, vai dormir? - perguntou Gustavo
- não, vou terminar de ajeitar umas coisas... só saí pra da um oi mesmo - dei de ombros
- ah, falw entao, Prazer. precisar Tamo aí
- valeu - entrei no quarto e tranquei a porta, mas pude escutar um pouco da conversa deles
- mano. tu nem recebeu a mina, cara - disse Gustavo - tem cara de ser firmeza
- ah, tava com mó sono..  É gatinha, mas aparenta ser muito certinha - ri incrédula, bando de desocupados - caraaaa que loucura ontem na casa do Nathan
- nossa, nem me fala! até hoje não sabemos como você conseguiu chegar em casa...
Desisti de ouvir aquele papo de bêbado e fui olhar a rua pela janela. Eram 18h e o céu ainda estava claro, fiquei encantada quando o sol começou a se por. Tirei uma foto e mandei pro grupo da família, como queria que eles estivessem aqui comigo. No mesmo momento. senti lagrimas rolar pelo meu rosto, a saudade ja estava dando sinal de vida. Deitei na cama e comecei a chorar, o real motivo? Não sei, mas só pode ser saudades... Acabei dormindo.
Acordei com gargalhadas vindo da sala.
- crl mano, e ela engoliu?
- ai dela se recusasse, a punição seria pior - reconheci a voz do Rafael. Mais gargalhadas e gritarias surgiram após esse comentário ridículo
- ta rindo de quê Téo, tu é virjao, sabe nem do que ele ta falando - disse Gustavo
- não foi o que ele me disse ontem.... - falou um outro cara que não conhecia a voz
- olha o outro também - disse Rafael e caíram na gargalhada
Meu Deus, onde fui me meter... Pelo visto, esses 75mil vai me custar caro.
Ainda sem ânimo para bater papo e responder ao vivo à todas aquelas perguntas de praxe ( como foi a viagem? Você passou mal? Aí é legal? E sua casa?). Mandei notícias por escrito, as mesmas para minha mãe, meu amigo e uns colegas, dizendo que estava tudo bem , que eu havia dormido demais e que no dia seguinte ligaria para todo mundo.
Enrolada num lençol, me agachei em frente a uma de minhas malas que ainda estavam feitas e peguei um par de meias. Vesti ,tirei um cochilo e quando acordei já estava tudo escuro, ia dar 21h. Parecia que eu estava sozinha em casa. Fui ao banheiro e ouvi batidas na porta do meu quarto. Abri e era o Rafael
- ow, Tamo indo lá no bar do Gera, você quer ir? - perguntou todo arrumado com uma bermuda branca, blusa de manga gola V preta e um sapatênis... Até que  não é de se jogar fora.
- ah, não... Obrigada
- quer ir não? - perguntou mais uma vez e eu neguei - então beleza. Olha vou deixar a chave aqui, daí quando eu sair ce tranca na segunda fechadura, quando eu chegar ce abre, porque ela só abre por dentro.
- Ok
- Vou nessa - saiu e eu fui atrás dele pra poder trancar a porta, ele saiu e eu Fechei.
Retornei pro meu quarto e fiquei olhando a rua pela janela. Dois minutos depois, vejo o Rafael, Gustavo e uma garota saindo do prédio e indo em direção a rua da faculdade. "espero que não demorem, estou bêbada de sono. Se eu dormir, pode ter um terremoto que não acordo" pensei. Fiquei conversando com umas pessoas pelo celular, instagram, facebook... Evitei assistir algum filme/série porque com certeza me daria mais sono ainda.
Deu 22h...
23h...
00h...
01h...
E ouço a campainha tocar. Levantei da cama num pulo e fui abrir a porta com uma cara não muito boa (pois ele fez uma careta quando me viu). Abri a porta e dei as costas pra voltar pro quarto.
- Tava dormindo ? - perguntou enquanto trancava a porta
- se eu tivesse dormindo, você ia morrer de tocar aí, não iria acordar - falei sem muito papo
- ah sim, demorei muito? - "cala a boca, cara. Pelo amor de Deus. Agora ta afim de conversa? Agora que passou o efeito da ressaca, ah me erra" pensei. Virei pra ele com uma cara bem irônica.
- vê que horas são... - falei me virando novamente pra ir pro quarto
- ei, tentei vir o mais cedo possível ! - falou vindo atrás de mim - se soubesse que não ia valer de nada, teria ficado lá, com certeza estava mais interessante do que olhar pra sua cara mau humorada
- ahhh, eu que sou mau humorada?! -  Parei na frente da porta do meu quarto e ele na do quarto dele. Cruzei os braços - Mas tudo bem, antes ser mau humorada do que mal educada
- ta me chamando de mal educado? - ele se virou pra mim
- se a carapuça serviu - Ergui os braços
- vê se me erra garota, nem me conhece - se virou novamente e abriu a porta do quarto
- a primeira impressão é a que fica, não é mesmo?
- ah, sim! Concordo plenamente... E eu não fui com a sua cara
- te digo o mesmo - falei e Fechei a porta na cara dele. - calma Eduarda, respira... Respira. Amanhã começa as aulas e você vai ter sua mente super ocupada - falei comigo mesma - Ai, como queria minha mãe aqui - sentei na cama e desabei a chorar novamente... E assim, adormeci.

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