sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Capítulo 9

- me tornei aquilo que mais temia: adulto e pobre! te contar viu..  - falou André, arrancando gargalhadas minha, da Geórgia e de alguns colegas que também ouviram aquele comentário.

Estávamos esperando o professor de cálculo I chegar para mais um dia sofrido de aula.

- o que vocês vão fazer esse final de semana? - perguntei a eles dois
- vou la na minha cidade visitar minha família - disse Geórgia
- sábado vou num aniversário. Ainda não tenho nada pro domingo
- ah.. Queria ir no cinema, tempao que não vou - falei
- vamos deixar pro próximo - disse Geórgia - estarei aqui. Também preciso ir
- fechado - disse André
- vocês fizeram o exercício 3 da lista - perguntou um colega de turma, Ricardo, sentando próximo da gente
- cara, fazer eu fiz, se ta certo... - falei
- ta doido, isso não é de Deus não - disse ele
- Definitivamente, não! - concluiu Geórgia

O professor entrou na sala e começou a correção da lista de exercícios que havia passado.

- pronto, depois de descoberto, você monta o gráfico da função - falou ele escrevendo no quadro. Pra maioria, ele estava falando grego - inclusive pra mim. - tranquilo? - ninguém se manifestou - que cara são essas? - falou fazendo careta - qualquer dúvida podem falar. apenas 4 de vocês marcaram e compareceram no horário de atendimento comigo... - disse sentando-se na cadeira da sua mesa - nosso monitor Rafael se acidentou, vocês ficaram sabendo?
- sim, a Eduarda mora com ele - disse Adriana. Até parece que fui eu quem contei que ele se machucou. Todos olharam pra mim, inclusive o professor. Senti meu rosto arder.
- morava - protestei
- mas quando aconteceu, eles ainda moravam juntos. Ela quem levou ele pro hospital e ficou la até ele receber alta - falou uma colega. Incrível como as notícias correm rápido por aqui.
- ah, é? - disse o prof - e como ele ta, Eduarda? Ta melhor?
- ahh, sim. Ta fazendo tratamentos diários
- mas ele ta indo pra clínica ou em casa mesmo?
- ele vai um vez na semana na clínica. O restante dos dias é em casa mesmo. Mas ja ta andando e tudo mais. Com o auxilio da muleta, claro
- Graças a Deus - falou - ele me ligou avisando. Fiquei sentido. Mas fico feliz que ele esteja se recuperando bem. Ele é fundamental na universidade. Pessoal, vou passar mais uma lista pro email. vocês - mudou de assunto, mexendo no seu notebook
- a prova da semana que vem está confirmada, professor? - perguntou um colega
- até o momento sim. Se caso acontecer algo que precise desmarca-la, aviso com antecedência e combinamos um outro dia.

(...)

- da pra prestar atenção?
- eu to prestando...
- não, Eduarda, você está olhando pra minha boca.

Quinta-feira 18h da noite.
Estou no sofá do apartamento de Rafael estudando - ou melhor, tentando - pra prova da semana que vem.

- você tem que aprender isso daqui. Se não souber, vai errar a maioria das outras questões - falou calmamente
- eu vou me ferrar nessa prova
- não vai não. Você sabe o assunto. Até que não é burra - falou e eu dei um empurrãozinho nele que riu - é serio. Tem facilidade pra cálculos. Mas ta errando nessa parte aqui
- como você conseguiu passar nisso? - perguntei olhando pra ele
- estudando, ue. Eu era péssimo em matemática na época do colégio
- mentira!
- juro. Fazia recuperação e tudo mais. E estudei em escola pública. - disse colocando o pé imobilizado em cima de uma cadeira - Quando fiz a primeira lista de exercício e entreguei pro prof Vagner, ele perguntou de onde eu era, quando Respondi, ele me mandou fazer as malas e voltar pra casa. Disse que era pra eu ter compaixão da minha família que estava me ajudando com as despesas, pq eu não tinha futuro
- serio? - ele assentiu - e você?
- fiquei com vontade de socar a cara dele! Odeio que tirem conclusões precipitadas sobre mim. mas pra não dar motivos a ele, resolvi estudar e provar que meu lugar era aqui.
- hoje ele baba seu ovo - falei e ele sacudiu a cabeça - serio. Um dia desses na aula ele falou que você é um cara fundamental da universidade.
- ele se tornou meu amigo-pai. Um dos professores mais próximos. - sorriu - quando eu fiz a primeira prova dele, não tinha errado uma questão sequer, mas ele não me deu a pontuação fechada pq disse que ninguém fecha a prova dele, FDP
- você ta me assustando - ele riu
- que nada, pra passar nele é so estudar. Se ele ver que voce se empenha, procura entender, procura aprender... Ja foi. Ganhou Vagner. Tenho aqui uns modelos de prova dele. Ele analisa tudo! Tudo mesmo! Vê como é que você chegou em determinado resultado, qual fórmula você usou. Pq voce pode ir por varias vertentes. Ele diz que aplica as provas dele tipo uma redação. Ele da um tema e o aluno elabora um texto coeso e coerente. Aí ele analisa a forma de pensamento do aluno, como ele organizou as idéias, por qual vertente ele caminhou... O cara é simplesmente monstro! - disse com admiração
- OK. ainda estou com medo - falei voltando as atenções pro caderno e apostila que estava no meu colo. Rafael riu e depositou um beijo demorado na minha bochecha. Ele vem me surpreendendo com tanta Fofura. Realmente, eu havia tirado conclusões precipitadas dele - mas também, ele deu motivos pra isso.
Fiquei tao feliz no dia em que ele me contou um pouco sobre ele, sua familia, o pq ele veio pra Minas... Me senti próxima dele, de uma certa forma.
O pior foi ter que ficar repetindo pra mim mesma que aquilo não foi nada, que não era só pq ele me contou uma coisa pessoal que ele seria o cara com que eu ia usar todos os meus conjuntos de lingeries da La Perla  por toda vida ou o pai dos meus filhos, na hora de dormir.

- vamos focar aqui - falou- Se x é menor que -1, então...- volta a atenção no caderno
- então o módulo de x + 1 mais o módulo de x - 1 é igual a -x-1 menos x+1, que é igual a  -2x ?
- boa garota! até merecia um beijo
- Mas eu acertei!
- mas não ta merecendo
- incrível suas desculpas
- desculpas?
- sim... Você não quer me beijar pois sabe que não vai resistir - falei bem baixinho e passando o dedo indicador no seu lábio inferior
- ta muito esperta pro meu gosto
- ahá! - pisquei - sou barril!
- você é o que? - perguntou com uma cara confusa
- barril - RI - falamos isso na Bahia. Nesse sentido é tipo, sou F$DA
- e tem outros sentidos?
- yess! Igual a f$da. Tipo, se eu falar: essa questão ta barril. É tipo: ta difícil, ta complicada, ta f$da. E eu posso até intensificar mais falando  "barril dobrado" . "Eu sou barril dobrado" ou seja, eu sou muuuuito boa. E "essa questão ta barril dobrado", essa questão está muuuuuito difícil. Sacou? - pisquei e ele fez uma cara de interesse
- gostei. Vou usar. Voltando.. Se x -1 é menor ou igual a x menor que 1, então...
- então o módulo de x+1 mais o módulo de x-1 é igual a x+1 menos x+1 que é igual a 2.
- mano... Você - me deu um selinho - é - selinho - barril - selinho e eu gargalhei - e não apenas barril - selinho
- humm - passei  meus bracos em volta do seu pescoço
- você - me deu mais um selinho - é - selinho - barril - selinho - dobrado!

Eu rio e ele me dá um beijo ofegante e eu me entrego. Sinto suas mãos
puxando os cabelos da minha nuca. Me arrepio toda. Continuamos nos beijando por uns dez minutos, até que interrompo com selinho.

- pensei que eu não estivesse merecendo - brinquei
- você sempre me merece.

Rafaelnunes Eu só posso agradecer...

Julia: Que tanquinho é esse?!!
Kikko: goxxtoso. Dilatei
Xavier: camisa 10
Bruno: aeeee parça. Da pra ver a melhora!
Hellen: que Gatinho, Rafa. Estamos sentindo sua falta
Gustavo: ai meu coração! Não aguento não
Viviane: isso mesmo, meu lindo. Gratidão é o sentimento mais lindo
Luiz: ta no speed já né
Rafaelnunes: daqui a pouco volta a ativa @luiz hehe
Forlan: mano, passa seu endereço novo. To querendo te prestigiar com minha ilustre visita ha ha ha abraço irmão
Rafaelnunes: @viviane concerteza, tia. Saudades
Eduarda: Panda
Nathan: qual a sensação de ser lindo assim?
Rafaelnunes: opa! Nao tem como dizer nao, ne?! direct delicia @forlan
Vinicius: a empresa Jr precisa de tu mlkote
Rafaelnunes: fiona @eduarda
Beth: onde clica pra curtir 1000 vezes?

No seu....
Pensei.
Que garota chata.

(...)

Passaram-se os dias.
Fiz a prova de calculo 1, e advinhem? Não fui muito bem.
Por mais que eu estudasse cerca de 3 horas por dia com o Rafael, fiquei com a nota média.
Falando em Rafael, as coisas entre Nós estão fluindo como um rio.
Preferimos não dar nome pro que estamos Sentindo, apenas viver. E ta sendo maravilhoso.
Ontem fomos tomar um sorvete numa sorveteria em frente ao seu prédio.
Ele ja está quase 100%, mas como o foco dele é a  olimpíada universitária, está tomando todo o tipo de cuidado.
Apenas a Geórgia e o Gustavo sabem do nosso lance. Os demais apenas disconfiam, até pq quando estamos entre amigos, não ficamos juntos.
A Beth veio visitar Rafael num dia em que estava eu, Geórgia e Vinicius no AP dele. Sua visita não se prolongou. Quando me viu abrir a porta, seu expressão facial mudou. Fingi não me importar e fui simpática a todo momento.
Depois desse dia, ela sumiu. Só vejo, quase que nunca na faculdade.

(...)

- Amiga, só amanhã - suplicava Geórgia.
- você tem noção do que está me pedindo, Geórgia? - falei caminhando até meu guarda-roupa. Sexta-feira, 19h, e a minha amiga está implorando pra que eu fique com as duas primas gêmeas dela enquanto ela sai com o Gustavo. - eu amo crianças, mas é muita responsabilidade.
- elas são uns amores, obedientes... Não vai acontecer nada. Por favor
- quando é que elas chegam?
- amanhã. Minha tia quer fazer uma segunda lua de mel esse final de semana. Eu esqueci que o Gustavo tinha me chamado pra sair. Elas nao irão quebrar nada seu, prometo
- ta bom!!! - falei por fim
- aiiii como eu amo essa baianinha!! - falou me apertando
- que falsiane! - falei - me solta, vai
- nossa, se fosse o Rafael voce não estarei pedindo pra te soltar - falou se jogando na minha cama. - estaria "aiii Rafa, me aperta, me pega de jeito" - disse modificando a voz
- besta - ri - pra onde você vai amanhã com o Gustavo?
- passar o dia num sítio do tio dele
- só vocês dois? - falei sentando na cama
- uhun
- juízo hein
- sempre!!!  - falou bem animada - e você e o Rafael? Como estão? A viking já desencantou?
- nunca mais ela apareceu... Não quando estou lá. Discutimos ontem ...- falei sem muita emoção - ainda não falei com ele hoje
- Ue, por qual motivo?
- sabe que nem eu sei? na verdade eu até sei... Tenos realidades diferentes. Ele é super popular, "fundamental na universidade" ... Eu não sei lidar com isso. Ontem chegou duas "colegas" dele lá. 22h da noite! O que duas pessoas vão fazer na casa da outra às DEZ HORAS DA NOITE? Tem que ter muita intimidade, né?!
- o que elas queriam?
- disse que não era nada. Fui eu quem abriu a porta. Elas falaram rapidinho, ainda disseram "não sabia que ja estava com visita" - revirei os olhos - aí uma outra disse " a gente só veio ver se voce melhorou, se não estava precisando de algo. Depois voltamos com mais calma"
- e ele?
- aí elas foram embora e eu também. Antes de eu ir ele falou que não sabia que elas iriam pra la e tal... Me poupe, né. Ele da muita ousadia, isso sim
- você tem que ter paciência Duda. Pelo que percebi, ele é sim, muito popular... deve ser complicado ele mudar a realidade dele assim de uma hora pra outra. Vai que ele era daqueles que todo mundo vai na casa, a hora que quer.. Não sei. Uma coisa pode ter certeza, ele gosta de você
- me irrita isso. Eu preferi não falar nada. Não sou nada dele. Não posso cobrar esse tipo de atitude ele. Ele me entupiu de mensagem hoje. Respondi só o básico. Me ligou mas eu atendi e falei rápido. -suspirei - tem horas que eu tenho minhas dúvidas sobre esse "gostar de mim" que você fala... tem vezes que ele se tranca. Tenho medo de ser apenas mais uma. Uma Beth, que parecia que ia, mas não foi
- larga de ser boba, isso ta mais do que na cara. Ele ta apaixonado por você! Coisa que até onde eu sei, ele não estava por essa tal de Beth
- sem exageros - disse por fim, decidida a me afastar do Rafael o quanto antes.
Resta saber se iria conseguir.

(...)

Hoje é sábado e estou indo até o supermercado que tem aqui perto de casa para comprar algumas besteirinhas pra comer com a Ana Julia e Pietra, as primas da Geórgia.

Não demorei muito - não gosto de demorar no mercado - pois ja fui com tudo que precisava anotado.
Cheguei em casa e não demorou 30 minutos, a Geórgia interfonou. Abri o portão e ela subiu com as meninas.

Elas são uma graça! Gêmeas idênticas, com excessão dos cabelos. A Anaju tem cabelos loiros e lisos e a Pietra, pretos e encaracolados.
Ambas usavam um conjunto com um short jeans e uma blusa amarela. 8 anos de idade.
No começo elas ficaram bem tímidas. Mas essa timidez não demorou muito, foi logo embora depois que eu coloquei diante delas um prato com brigadeiro de colher e o filme "Os Croods" na tv.
Gustavo subiu e depois saiu com a Geórgia.

Ficamos assistindo o filme e conversando um pouquinho. São bem espertas. Até que o filme acabou.

- Tia Duda, podemos ir na lagoa? - perguntou Ana Julia
- oi? - falei sem entender.
- Nós trouxemos maiô. Colocamos na mochila, escondidos da mamãe. - Ela meolhou com a carinha mais fofa do universo, dessas que fazem gelo derreter. - Por favor...

Realmente, eu havia planejado de tudo, menos levar as garotas à lagoa. Em primeiro lugar,
não queria me arriscar caso alguma - ou  as duas  - não soubessem nadar e acabassemse afogando. Depois, estava fazendo frio. E não há nada neste mundo que eu deteste mais do
que água gelada em minhas costas.

-  Bom, podemos combinar o seguinte... - disse, tentando ganhar tempo para elaboraruma ideia brilhante. - A gente vai na brinquedoteca primeiro. Quando nos cansarmos de brincar,fazemos um piquenique na lagoa, mas sem usar roupa de banho por enquanto. Legal assim?

Minha proposta foi aceita com entusiasmo. Para quem não vivia rodeada por crianças, euaté que levava jeito. Talvez trocasse de curso. Pedagogia erauma boa, né? Ou psicologia, quem sabe?

Brincadeirinha

Descemos e ficamos la com algumas outras crianças e seus responsáveis e babás.
Sentei no sofazinho que tem numa parte coberta, de costas pra porta enquanto olhava elas brincavam com os brinquedos da brinquedoteca.

Depois de quase 1h brincando, elas vêm na minha direção.

- podemos ir na lagoa agora, tia Duda? Hein? - perguntou Pietra.

Devanear perto de crianças não é legal. Elas não esperam a gente voltar a raciocinar.

- Podemos, tia Duda? - reforçou Anaju

- Claro que a Duda vai deixar, não é, princesa?

Dei um pulo. Apesar de todos os rostos terem se mexido automaticamente pela
manifestação de uma voz masculina naquele ambiente dominado por apenas nós três, eu me mantive namesma posição, ou seja, de costas para a porta e impossibilitada de verificar quem entrava esaía na brinquedoteca. Não que eu precisasse olhar, diga-se de passagem, pois sabia exatamentequem era o dono da voz mais profunda e sexy da face da Terra.
Por que Rafael tinha que aparecer para complicar um dia tão bom? E como assim, mechamar de princesa? Ridículo.
Ainda sem me mover, respondi calmamente
- se é que dava para ficar calma naquela
situação -, como uma professora das mais pacientes:

- Se vocês estiverem mesmo cansadas de brincar aqui por hoje, não vejo nenhum problema em
levá-las à lagoa. Mas não vamos nadar, certo? Mas antes, vamos arrumar todos esses brinquedos aqui.

Rapidamente, as meninas deram conta de organizar a brinquedoteca. Quer motivação melhor que a
promessa de um passeio ao ar livre?
Durante todo o momento de arrumação, senti os olhos de Rafael me observando. Ele ficouparado na porta, com um ombro encostado de maneira despojada no batente, de olho em tudo,ou melhor, em mim. Claro que primeiro cumprimentou as meninas e fez um gesto rápido com acabeça em minha direção, mas nem se preocupou em nos ajudar, nem disse nada. Só ficou lá,
com aquele olhar de lince, avaliando meus movimentos, como um encarregado de turma numafábrica.

- Precisa de alguma coisa? - indaguei, a personificação da indiferença. Pura fachada.
- Nada, não - disse, todo confortável. - Só estou esperando vocês para o passeio.Vou acompanhá-las.

Deu para perceber o tom? “Vou acompanhá-las” e não: “Posso acompanhá-las?”. É muita confiança, fala sério.

- Não precisa. Vamos fazer um programa feminino, não é, garotas?
- Ah... Mas ele pode ir, se quiser - falou Anaju meio enfeitiçada por Rafael. E
quem é que não ficaria? Até uma garotinha de 8 anos.
- Obrigado pelo convite, lindinha - agradeceu, charmoso. - Porque, se dependessedessa princesa aqui, eu ficaria sozinho, sem nada para fazer.

Encarei-o com fúria. Princesa era a vovozinha..

- Você não tem que trabalhar? Na empresa júnior... - questionei. Sim, pois de acordo com as periguetes que apareceram na casa dele, Rafael já tinha perdido tempo demais.
Ele levantou o punho da jaqueta de couro, preta e checou o
horário no relógio de atleta. Sei disso porque esse tipo de relógio é... bom... Ah, sei dissoporque sei.

- Trabalhei o suficiente por hoje. Mereço uma tarde relaxante. Concordam, meninas?
-  Siiiiim!

Ai, Senhor. Vencida por duas pirralhas que passaram o dia comigo e deveriam estar domeu lado. O que um homem bonito faz com o cérebro das mulheres? Congela?

- O que vocês acham de a gente pescar? - sugeriu Rafael, todo empolgado. - Conheçoum lugar superlegal.
- Como assim, pescar? - guinchei, de um jeito nada atraente.
- Bom, a gente usa vara, anzol e isca e joga na água. - Rafa cruzou os braços no peitoe plantou no rosto uma expressão bem safada. - Se o peixe for fisgado, significa que a gentepescou. Entendeu agora?

Ele estava zoando com minha cara. Que sujeitinho mais irritante! Ou ele se achava muitoengraçado, ou sabia que me afetava. Senti o sangue subir para minha face, rompendo o restante
de autocontrole que eu ainda possuía.

- Nossa! Essa piada foi hilária. Viu como eu ri? - ironizei. - Agora, vamos, meninas,senão fica tarde.
- Eduarda, eu estou falando sério. Quero levá-las para pescar. O lago da Reserva Natural é um lugar excelente para pescaria. Qual é o problema?

Pus as mãos da cintura e empinei o nariz.
-  O problema, Rafael, é que não
não temos o equipamento adequado para essa atividade.

Ele não se deixou vencer. Percebi que meu poder de persuasão ia de mal
a pior.
Então, ele andou até parar bem perto de mim e falou:
- no pesque-pague  tem um depósito cheio de apetrechos de pescaria. Podemos até escolher. E agora?
Mais algum empecilho?

A derrotada na discussão acabou sendo eu. O que mais eu poderia alegar? Não,
Rafael, não vamos com você porque quase morro quando estamos juntos. Ou então eu poderia dizer também: É melhor não sairmos juntos mais porque eu mal consigo respirar perto de você.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Capitulo 8

- o que vocês andaram aprontando? - falou a enfermeira da noite anterior com a expressão de desconfiança no rosto ao nos ver deitados abraçados na cama. Dei um pulo.
- na-nada... Só dormi aqui porque estava desconfortável a poltrona - disparei.
- ta tudo bem - ela riu - sorte que foi eu quem chegou primeiro - se aproximou da plaquinha próximo à cama do Rafael. - como se sente? - perguntou a ele que estava ainda sonolento
- o pé ainda dói bastante e o braço dormente - olhou para mim. Senti minhas bochechas arderem
- daqui a 1h sua operação começa. Antes, precisamos realizar uns exames - falou a enfermeira enquanto anotava algo na prancheta - você pode agurdar na sala de espera - se dirigiu a mim - vou deixar vocês se despedirem antes de levar o Rafael. Depois só vão namorar quando acabar a cirurgia. Juízo. - falou caminhando até a porta.
- que vergonha ! - falei cobrindo o rosto e sentando na poltrona. Rafael riu
- Você é estranha, na moral. Ao mesmo tempo que é cheia de personalidade, é extremamente tímida. - disse sentando na cama - o que tem de errado dormir com seu namorado? - olhei pra ele com os olhos arregalados - que foi? Não foi isso que você falou para eles? - lembrei, suspirei e ignorei. Ele riu. Ou Rafael ta muito nervoso ou está relaxado, muito bom humor matinal pra quem está prestes a entrar em uma sala de operação. Não quis quebrar esse clima.
- vou no banheiro - falei pegando minha bolsa. Fui ao banheiro, fiz minhas higienes e voltei. Rafael estava mexendo no celular sentado na cama com as pernas para fora.
- Gustavo está vindo pra cá - falou
- pq?
- pra você ir descansar. Ajeitar suas coisas. Amanhã você tem aula normal.
- eu sei o que preciso fazer tá?! Você não é meu pai, não precisa decidir por mim - pisquei - fala que não precisa... A não ser que ele e você queira, mas vou logo avisando que nao vou a lugar algum - falei dobrando o casaco dele e guardando na mochila
- Eduarda... Não precisa fazer isso. Aliás, pq está fazendo isso?
- Defina "isso". - olhei para ele rapidamente - Pq até onde eu sei, estou apenas acompanhando um colega que está acidentado
- mas pq...? - olhei para ele
- pq eu sou assim, Rafael! Eu não vou ficar tranquila enquanto não te ver saindo daquela sala, enquanto não ver que voce ta bem e que esse pé não está mais feio  - ele sorriu timidamente
- essa última aí... acho que só na próxima encarnação - falou e eu RI com o nariz - então tá. Se você acha melhor assim...
- sim, é o melhor - voltei a guardar as coisas na mochila. Meu celular começa a tocar. Olhei no visor e era a Geórgia. - oi Geo
- onde você tá, gatona?
- hum... To no hospital, mas não aconteceu nada... Não comigo... - falei olhando pro Rafael que me olhava também
- como assim? Com quem foi? Eu conheço? Ta tudo bem?
- é... - Rafael pediu o meu celular. Caminhei até a cama e lhe entreguei - Fala Geórgia! - falou num tom divertido - sou eu mesmo - riu - machuquei o pé pô, vou ter que operar... Daqui a pouco por sinal - falou olhando pro pé - não, ta tranquilo, ta tranquilo. - pausou e riu - to vivo. Ela não me matou... - riu e olhou para mim, semicerrei os olhos, Cruzei os braços e balancei a cabeça negativamente - ainda. - riu mais uma vez - verdade - gargalhou - vou desligar, depois nos falamos. Beijao - pausou - amém, valeu. - desligou o celular e olhou a tela - ta gatinha nessa foto - falou se referindo a foto do meu descanso de tela - nem parece você
- vai pra merda - falei pegando meu celular da mão dele. Ele segurou a minha mão e me puxou pra mais perto, me fazendo ficar entre suas pernas, a centímetros de distância do seu rosto
- que isso assim? Que agressividade é essa? - falou num tom bem ameno, o que fez meu coração dar piruetas.

Olho para seu rosto e sinto o calor da sua mão transferir-se para a minha, aquecendo todo o meu braço, depois meu peito, e meu corpo.
fazemos isto.

As mãos dele sobem para o meu rosto, segurando minhas faces, e suas
palmas são tão grandes e quentes que sinto meus nervos faiscarem e
iluminarem todo o meu corpo. Rafael me segura da maneira mais terna e desarmada, como se tivesse o dever de me proteger, de cuidar de mim. Gostei dessa sensação.

Seus olhos, porém... Seus olhos estão qualquer coisa menos ternos. Estão escuros e ansiosos, até mesmo preocupados, talvez pensando que isto é errado e não devíamos estar fazendo isto.
Ou talvez estejam preocupados... que descobriremos que devíamos.
E sob toda essa preocupação há desejo, lascívia e um milhão de outras
sensações fervilhantes, por que ansiei, de que precisei, que quis. Me pergunto se ele pode ver o medo nos meus olhos, o medo de me apaixonar e assim perder o foco na minha faculdade, o medo de me apaixonar pelo meu colega de apê, o medo de me apaixonar por um cara que pode ter quem ele quiser, se pode ver a verdade. Ele se aproxima mais, os seus olhos desviam-se dos meus e descem até
a minha boca, para onde seus lábios se dirigem.

Não sei o que fazer com as mãos. Não sei o que fazer! Então, fico ali parada,
fecho os olhos, e espero até sentir os lábios de Rafael nos meus. Eles me
pressionam por inteiro. São macios, muito macios, como uma almofada em que eu estivesse me afundando, como se não tivessem fim. Os lábios de Rafael imploram, imploram definitivamente por mais, mais beijos, mais dele. E então sua boca se abre e o estou beijando de volta, beijando seu gosto, que é muito mais do que apenas cerveja. É aromático, selvagem como seu cheiro, e é viciante!

Nossas bocas se encaixam com perfeição, nossos lábios se procuram no mesmo ritmo, uma carícia macia, úmida, sensual de pele contra pele.
Faz com que eu queira mais.
Muito mais.

Agora sei o que fazer com as mãos, ou talvez minhas mãos saibam o que fazer
com Rafael. Acho que sempre souberam. Vou para sua cintura e eu posso sentir um pouco da rigidez do seu abdômen. Sei que isso não deveria fazer parte do beijo, mas não consigo evitar.
Quero que fique mais perto de mim, quero mais dele.

Recebo mais.

Sua língua entra na minha boca, deslizando lenta ao longo da
minha, e então nossas bocas estão mais abertas, nossos lábios mais firmes, nossobeijo mais voraz, mais molhado, mais enérgico.

Quero continuar beijando-o, sentindo-o, sentindo isto que agita minhas
entranhas, que faz com que minhas coxas se pressionem uma contra a outra, comque eu queira morder seu lábio inferior, puxar seu cabelo, sentir seu corpo firme erígido sob meus dedos.

- opa, desculpa atrapalhar, mas ja atrapalhando... - entrou um médico acompanhado de duas enfermeiras (que nos olhavam de uma forma assustada) no quarto.

No primeiro momento, fiquei furiosa! Quebrou o nosso beijo de tirar o fôlego.
Em seguida fico horrorizada com o que eles poderiam teve visto.
Me afastei rapidamente e ajeitei o cabelo. Estava desnorteada.

- viemos levar nosso atleta para os exames pré operatórios
- tudo bem... - falei sem olhar pro Rafael.
As enfermeiras se movimentavam pelo quarto enquanto o médico pegava a prancheta. Peguei a minha bolsa e a mochila do Rafael.

- aguardo lá na sala de espera mesmo? - perguntei ao médico
- pode ser. Tem uma próxima à sala em que ele estará... É menos movimentada, caso prefira - disse caminhando até o outro lado do quarto
- prefiro - falei  e sispirei. Olhei pro Rafael e o mesmo me encarava. Eu não sei o que falar, talvez um "boa sorte"? - bom... - falei e ele sorriu.
- vem cá - disse. Caminhei até ele com minha bolsa e sua mochila - fica bem, tá?
- era pra eu estar te falando isso - falei
- vale pra nós dois. Mais pra você do que pra mim, confesso. - sorriu. Segurei seu rosto e lhe dei um beijo amistoso entre seus olhos
- te espero la fora, ta?! - passei o dedo indicador na ponta do seu nariz. Ele segurou e o beijou.
- não vejo a hora.

(...)

- Verdade! - disse Gustavo olhando para a tela do celular.
Estávamos sentados na sala de espera. Apenas eu, ele e um casal.
Ja se passavam 2 horas desde que Rafael entrou na sala de operação. Eu estava uma pilha de nervos. Tanto pela operacao quanto pelo Beijo (uma porcentagem a mais pelo segundo motivo) e o Gustavo tentava me distrair.
- o quê? - perguntei olhando para tela do celular dele. Avistei uma foto de um cérebro na forma de animação e a seguinte frase "valorize suas curvas". - assino em baixo
- beleza não é tudo, na verdade, não é nada!
- uhum - falei sem emoção - acho que vou pegar um pouco de café. Quer?
- quero. Quer que eu vá contigo?
- não, ta de Boa - levantei e fui até o corredor onde tinha uma cafeteira. Aproveitei que estava sozinha no corredor e liguei pro Daniel. Precisava colocar minha cabeça em ordem e ninguém melhor do que ele para me ajudar nisso. Contei a ele tudo o que estava acontecendo inclusive aquilo que me atormentava: o beijo.
Mas não foi apenas um beijo, foi O BEIJO!

- DUDA DO CÉU! - disse Daniel - tu agarrou o boy mesmo! - riu
- eiiiii, eu não agarrei ninguém! - protestei - to com medo..
- ainda não entendi o motivo de tanto receio, Eduarda. Você é solteira, ele também... Moram no mesmo apê... Isso deveria ser uma desvantagem mas pelo fato de parecer um casamento precoce, mas tudo tem seu lado bom
- Eu vim pra cá pra estudar, não pra viver uma história de amor
- isso não quer dizer que você não possa conhecer alguém, gostar desse alguém...
- não, eu não posso fazer isso! Não posso me apaixonar por ele. Não por ELE!
- sinto lhe informar que você ja está, minha querida.

(...)

- fala aí seu arrombado - disse Nathan ao entrar la em casa.
Rafael estava no sofá juntamente com o Gustavo assistindo TV. Abri a porta e sentei à mesa na qual estava fazendo uma aticidade de algebra linear.

Era segunda-feira e ja passavam das 18h. Rafael, Gustavo e eu chegamos do hospital pela tarde e os Outros meninos ficaram de vir pra cá.

- fala depravado - disse Rafael dando um toque na sua mão
- e aí, irmão. Como ta aí? - falou apontando com a cabeça para o pé do Rafa.
- pinicando pra cacete. - respondeu Rafael - mas ta menos dolorido
- será que vai estar bom pro campeonato das universidades?
- tava falando isso aqui com o Gustavo, vou ver se contrato um fisioterapeuta particular... Quero chegar lá 100%
- não podemos perder nosso melhor jogador não, mano - falou Gustavo

Meu celular tocou o despertador. Remédio para Rafael. Levantei e peguei em cima da geladeira um comprimido e um copo de água. Entreguei pra ele.

- eita! Com uma enfermeira dessa, você fica bom rapidinho, parça - falou Nathan dando dois tapinhas nas costas do Rafael. - oh Duda, onde tu vai passar o carnaval?
- aqui, provavelmente - falei anotando umas formulas no caderno. - pq?
- vamos pra Salvador? - falou e olhei pra ele
- oi?
- pirou de vez - disse Gustavo
- é, pô! Meu sonho brother! - o interfone tocou
- atende aí, Nathan - falei e ele foi atender
- quem é? - disse Nathan - abriu ? - ele desligou - é o Felipe, ta subindo
- queria mesmo falar com ele - disse Rafael. Não demorou muito a campainha toca e o Nathan vai abrir
- vou começar a cobrar hein - disse ao abrir a porta - olha só quem ta aqui - virei-me para ver quem estava  além do Felipe e dei de cara com ninguém mais e ninguém menos que a Beth. Ou melhor, Elizabeth.

Quase fiquei sem ar e o Rafael sem cor.
Ela usava um vestido florido tomara que caia na metade da coxa. Sabe aquelas modelos ruivas? Então, essa é a melhor definição para a aparência da Elizabeth.

- tive que vir ver como está esse garotinho né - falou caminhando ate o Rafael e depositando um beijo na sua bochecha. Meu estômago ativou o modo 360°.
- Duda! - disse Felipe caminhando na minha direção e me dando um abraço ainda sentada - como você ta? Nunca mais te vi gatona
- to bem - respondi ficando meio que de costas para o restante do pessoal - você que sumiu, garoto! - ele se sentou à mesa comigo, ficando de lado pro pessoal
- estudando?
- to. Pegando o assunto de hoje
- passei na sua sala hoje. Fui falar com um brother meu, perguntei por voce e ele falou que não tinha ido
- quem foi?
- Ricardo
- hummm, conheço
- não vai me apresentar sua amiga não, Fê? - falou Beth. Virei para ela que estava sentada ao lado do Rafael no sofá
- Oi - falei levantando a mão em um aceno simpática - Eduarda
- Também conhecida com enfermeira Duda.

Rafael e Gustavo estavam um tanto tensos. Era notório.

- Prazer, Eduarda - fez o mesmo - Elizabeth, mas pode chamar de Beth
- obrigada por cuidar do nosso Rafa - falou olhando pra ele melosamente. Fiquei enjoada - Parabéns pela sua apresentação! Agora que estou te reconhecendo... ta diferente ..
- não foi nada Cuidar do Rafa de vocês - dei de ombros - depois cada um me paga um milkshake e ta tudo resolvido - pisquei - e obrigada.
- te dou tudo o que você quiser, gata. Mas me leva pra Salvador no carnaval, por favor. Te dou a lua, te levo até pra lá - disse Nathan
- você é de Salvador, Eduarda? - perguntou Beth. Assenti - hum, que legal... - senti um certo desdém no seu tom de voz - ela se virou pelo Rafael e segurou uma das suas mãos - estava com saudades de você! Pq não me ligou pra falar que havia se machucado? Pq nunca mais falou comigo? - falou num tom mais abaixo, deixando claro que queria apenas falar com ele. - senti sua falta!

Eu queria sair dali o mais rápido possível! Cada vez que ela acarinhava o Rafael meu estômago revirava, minha cabeça revirava. Eu não podia fazer nada, até pq ele não é nada meu, NADA! - fiquei repetindo isso pra mim milhares de vezes - Eu estava super inconfortável. Gustavo e Rafael também.
Nathan e Felipe não desconfiavam de nada e começaram a falar de banda de axé.
Queria uma desculpa para sair daquela sala.

Evitei ao maximo olhar pro casal no sofá mas não dava. Passei o olho e vi Beth recostada no ombro do  Rafael com as maos no braço dele. Eles conversavam algo que não dava pra ouvir devido o barulho da conversa dos meninos (inclusive do Felipe que estava ao meu lado na mesa). Não deu tempo de desviar o olhar da Beth no ombro do Rafael pois ele me pegou no flagra.

Foi so olhar aquela situacao que a sala  se tornou pequena e abafada... como se não circulasse oxigênio nela.
Não ia conseguir ficar ali. Peguei minhas coisas e levantei

- ja vai? - perguntou Felipe
- vou estudar la dentro, Vocês falando de axé só me traz saudades - brinquei
- não Duda, fica, a gente muda de assunto! - disse Nathan - você saindo, tira a beleza dessa sala
- verdade - concordou Felipe. Nem quis olhar pra cara da Beth mas senti seus olhos passeando pelo meu corpo.
- to brincando! Podem conversar a vontade. Mas vou me recolher, to com dor de cabeça. Esses cálculos acabam comigo - Boa desculpa, Eduarda!
- nem me fale - disse Nathan - ta perdoada.
- boa noite! Prazer em conhecê-la, Beth - falei
- todo meu, Eduarda!

Fui para o quarto, tranquei a porta e me joguei na cama.

Isso não ta certo, Eduarda, Não esta certo!
Vai te atrapalhar muito!
Melhor parar enquanto é tempo.

Pensamento a interrompidos por batidas na porta.

- quem é?
- eu, Gustavo

Abri a porta e ele entrou trancando -a logo em seguida

- ta bem? - penguntou de pé
- pq a pergunta? - me joguei na cama novamente - senta ai
- não nasci ontem, Duda - disse se sentando - se isso ajuda, eles dois não tem mais nada!
- do que você ta falando? - fingi
- ahhh, não vem com essa de desentendida pra cima de mim não pq eu ja notei qual a de vocês
- Gustavo...
- Eduarda! Vocês se olham tao intensamente ! Eu vi no carro na volta pra casa. vi como ele te olhou quando entrou na sala depois da cirurgia... Conheço o amigo que tenho. Ele nunca olhou assim pra mulher nenhuma desde quando o conheci. Nem pra Beth!  Eles dois não tem mais nada, nunca chegou a ter, como eu ja te falei
- não é o que parece...
- sério. Ele tava ha um tempo sem falar com ela. Cortou mesmo a relação. Foi quase um namoro, mas nem assim eu vi o Rafa olhar pra ela da forma como ele te olha, nem fazer cara de toba quando fala de você
- nossa, que carinhoso
- o que quero dizer é que ele ta todo sem jeito la na sala. Tentando afastar ela. Tentei ajudar mas ela ainda acha que tem um pouco de esperança. Ela é muito genrte boa como amiga, não é dela que ele gosta
- nem de mim - falei por fim
- então não sei o que é gostar. Ele tava com ciumes de mim. Veio me.fazer perguntas sobre minha relação com você. Logo eu, que só tenho Amizade contigo pra pegar a Geórgia
- GUSTAVO! - falei e dei um soco no seu braço - que cara de pau
- aí, mo gostosinha sua amiga hein
- vocês são uns FDP - falei me deitando novamente - nenhum presta
- to de zoa, mas ele veio me perguntar. Senti logo a maldade. Ele negou, claro. Mas depois comecei a observar e minhas suspeitas estavam sendo comprovadas
- o que você me Dizendo essas coisas? Ele quem mandou?
- não, ele nem sabe que to te falando. Vamos la pra sala. Ajuda meu amigo a sair dessa situação?
- eu não tenho nada a ver com isso - falei dando de ombros - me tire de problema, querido. Ele tem que ser homem pra falar pra ela que não quer nada, ue
- então vamos pelo menos ficar la com a gente. Você nem tem aula amanha
- como sabe?
- Geórgia...
- se você machucar minha amiga, você morre
- ai q medo! - levantou as maos - ela sabe muito bem quais são as  minhas intenções com ela, e não sao das boas - falou sapeca
- ai Meu Pai do céu...
- vamo vai
- naaaao, amanha tenho que ir na casa do João ajudar ele com um trabalho.
- para de dar desculpas e vamos - falou levantando e me puxando em seguida. Saímos do quarto e eu fui até a geladeira beber um pouco de água
-minha vida começou a dar errado quando eu percebi que não cabia mais dentro daqueles carrinhos de supermercados para criancas - disse Felipe e demos risada
- Gustavo te curou da dor de cabeça, Duda? - disse Nathan, malicioso
- respeita a mina, Nathan - disse Rafael. A Beth não estava mais no seu ombro, porém, ainda sentada ao seu lado. Um pouco mais afastada. Senti uma sensação boa
- UE, só brinquei... - falou Nathan
- você tem umas brincadeiras que... Vou te contar vi. - disse Gustavo
- concordo - falou Felipe - Duda é irmã, po
- eita, Eduarda veio trazer discórdia na trupe? - disse Beth - cheia de advogados
- muito pelo contrário - disse Nathan - nunca vi a gente tao unidos. Todo mundo ama a Duda!
- menos né amore - falei sentando na cadeira
- Vem amor, senta aqui do meu lado. Vou te Fazer cafuné pra melhorar a dor de cabeça - disse Gustavo batendo no espaço entre ele e Rafael no sofá.
- ta me traindo, Gu? - disse Felipe - o que é que a baiana tem? - rimos. Sim, rimos, Beth deu uma risadinha sem som e sem graça.

Sentei entre eles dois. Gustavo se deitou e apoiou a cabeça no meu colo me empurrando para perto do Rafael. Ficamos a alguns centímetros de distância.

- era pra ser o contrario, não? - falei
- primeiro eu, depois você
- ah tá. Põe um filme aí Nathan. - falei cutucando ele q estava no carpete com o pé
-  voces tem que assistir isso aí oh, jornal, saber do que se passa na cidade, no Brasil. - falou pegando o controle remoto. Escolhemos o filme Operacoes Especiais e o Nathan apagou a luz e colocou sua cabeça encostada na minha perna, ja que ele estava sentado no chão.
- virei encosto agora? É o Gustavo, agora você... - falei
- que perna cheirosa, Du - disse Nathan
- mano, você é muito tarado - falei dando um empurraozinho nele
- to falando sério
- shiiiiii, silencio, quero assistir o filme - disse Elizabeth
Assim fizemos. A perna do Rafael encostava na minha, o que fazia meu corpo dar uma leve arrepiada.
A do pé machucado estava sobre uma cadeira.

- qual o próximo horário do remédio? - perguntou Rafael num sussurro ao meu ouvido. Estremeci com sua voz e seu hálito quente na minha orelha. Ele fez de propósito.
- se não me engano, 23h - falei no mesmo tom e no seu ouvido - o meu celular vai despertar e você sabe disso. - ele riu e deu um cheirinho na lateral do meu rosto. Elizabeth se mexeu no sofá e Rafael fingiu não ligar. Passou o braço por trás do meu pescoço e voltou a sua atenção no filme.
- essa Cléo Pires... Cacete - disse Gustavo
- orran, gostosa pra carai - disse Nathan
- uma beleza diferente né?! - falei
- prefiro você - Rafael sussurrou no meu ouvido
- para! - falei
- ue... - disse ele
- onde é o banheiro? - falou Beth
- na porta do meio - respondeu Rafael. Ela se levantou e caminhou até o banheiro.
- to com sono - disse Rafael colocando o queixo no meu ombro
- quer ajuda pra ir pra cama?
- quero que você vá comigo - sussurrou
- chama a Beth - falei. - ela com certeza vai aceitar - fixei meu olhar na tv
Ele ficou em silêncio
- não tenho nada com ela
- nem comigo - falei ainda olhando pra TV e fazendo cafuné no Gustavo
- Eduarda... - foi interrompido pela chegada da Beth à sala
- acho que já vou - disse ela com cara de desânimo
- mas já? - falou Felipe - deixa acabar o filme que te levo
- tenho aula amanhã
- eu também - disse Nathan - espera aí, po
- não, podem ficar. Eu chamo um uber
- claro que não. Você veio comigo. - disse Felipe - volta comigo - se levantou
- que orgulho de você, Fe ! - falei
- sou ajuizado, filha. Então, vou nessa, galera - disse Felipe
- vou pegar sua carona - disse Nathan, levantando - a gente vai se falando brow - tocou na mao do Rafael
- ah, todo mundo ja vai, então vou também - disse Gustavo - se bem que esse cafuné tava uma maravilha
- não se acostume nao - falei levantando também - venha mais vezes Beth - falei simpaticamente. Pela expressão dela, percebi que entendeu como uma afronta. Que seja
- ah, sim. Claro! - respondeu dando de ombros
- vocês eu nem falo mais nada, ja moram aqui praticamente - me referi ao restante - tchau Rafa, melhoras - disse Beth dando um beijo na testa do Rafael.
- obrigado. Fica bem. - respondeu ele.
Abri a porta, esperei eles entrarem no elevador e depois Tranquei. Olhei pra ele com cara de tédio.
- que foi? - ele falou. Apenas soltei o ar pelo nariz e fui beber água - Eu não tenho mais nada com ela - continuou - na verdade, nunca tive nada sério...
- legal - falei pegando a caixa do seu remédio e retirando a bula
- Duda... - pqp, não me chama assim
- hum? - falei "lendo" a bula
- olha pra mim
- diga, to ouvindo
- A corretora me mandou uma mensagem. O apê ja ta disponível. - olhei pra ele na mesma hora. Eu tinha esquecido disso. Que ele iria embora.
- e o que você falou pra ela?
- como assim?
- você vai? - valei caminhando ate ele. Sentei na ponta do sofá, distante dele.
- vou, ue. Essa casa é sua...
- ela é mais sua do que minha, você ta aqui a mais tempo...
- mas você chegou primeiro. Isso não vem ao caso
- mas Rafael...
- você vai ter mais liberdade sem mim aqui
VOCE TA DOIDO?
Essa casa vai ficar tao vazia! Nem consigo imaginar isso daqui sem ele
- mas você ta machucado! Não pode ficar em uma casa sozinho.
- com o dinheiro da indenização deu pra eu comprar esse novo apartamento e sobrou bastante ainda. Posso pagar a alguém... Não quero ficar te sobrecarregando, atrapalhando seus estudos. Ja basta o tempo que ficou comigo no hospital
- Rafael, isso não tem cabimento! Eu posso... - pausei. Ia falar que podia cuidar dele, que queria cuidar dele! - eu posso te aturar por mais um tempinho. Pelo menos até você melhorar, por favor - ele riu com o nariz e esticou seu braço até tocar minha mão
- eu agradeço, de coração, Duda... - falou acarinhando minha mão - mas vai ser o melhor, acredite. E É bem pertinho daqui... Uns 20 minutos. - pausou - sabe Duda, eu sempre quis ser independente. Desde quando morava com meus pais. sempre corri atrás pra ter minhas próprias coisas. Éramos bem humildes, então pra não precisar ficar pedindo nada pra eles, eu trabalhava pra conseguir meu dinheiro e poupar eles. De forma honesta, claro. Vim estudar em outro estado por conta disso. Nasci e cresci em Vitória, no Espírito Santo. Vindo pra cá, eu seria um trabalho a menos pra eles. Um peso a menos. Uma preocupação a menos. E agora, aqui, debilitado, sinto o mesmo com você. - eu ia protestar, mas ele fez sinal para que eu não falasse nada - você tem sua coisas pra fazer, cara. Não quero ficar te empatando. Uns colegas da faculdade querem vir me visitar... Vai ficar chato. Um entra e sai de homem, conheço os meus colegas... A maioria é do tipo do Nathan ou pior - eu RI e revirei os olhos - não vou me sentir bem.. Além do mais, não vou suportar ouvir os comentários deles sobre você, nem os olhares... - disse enciumado. tao sexy

- isso é ciúmes? - falei com as sobrancelhas arqueadas
- Não!
- aham. sei... - falei - eu entendo, Rafa. Só não concordo em você ir machucado. - falei sentando mais próximo dele
- ja falei que vou contratar uma pessoa pra me ajudar e um fisio.
- quando voce pretende ir?
- essa semana. A corretora fez um preço beeem barato pra compra do apartamento. Ele é todo mobiliado. Tem tudo mesmo. Sobrou bastante dinheiro ainda, da pra eu fazer tudo isso. Vou me recuperar rápido, além do mais... Estou sob os cuidados da melhor enfermeira particular do mundo - disse colocando a sua mao no meu rosto e me dando um selinho
- ah é?
- uhum - outro selinho - da mais inteligente - beijinho no canto da boca - mais chata - beijinho na bochecha - mais cuidadosa - beijinho no outro canto da boca - mais cheirosa - cheirinho/beijinho no pescoço - e mais linda - selinho prolongado na boca. Em seguida, ele me beijou de verdade.
Diferente do nosso primeiro, esse foi bem suave, romântico, terno. Porém intenso e viciante da mesma forma.

(...)

Nathandias Irmão @rafaelnunes

Bethlago: lindoes
Giuliacosta: amo muito
Felipemaciel: gostosos
Paolasantig: crushs eternos
Gustavolira: to pegando
Gustavolira: não disse qual
Nandopassos: melhoras mlk @rafaelnunes
Anandafelippo: que tiro
Roggger: fechamentos! @rafaelnunes trata de ficar bom pro campeonato hein

(...)

terça-feira, 26 de junho de 2018

Capítulo 7

Olhei no Relógio, ia da 7h. coloquei o celular no silencioso e fui dormir. E como dormi. Acordei eram 18h.

Nossa!
Hibernei.

Olhei o celular e tinha inumeras mensagens e ligações de diversas pessoas, uma delas era minha mae. Liguei pra ela, conversamos um pouco e desligamos. Respondi todas as mensagens nos WhatsApp, dei uma olhadinha no instagram e depois levantei. Fui ver o que tinha pra comer pois estava morrendo de fome.

Quando abri a porta do quarto, notei que a do Rafael estava aberta e a janela fechada. Fui na cozinha e olhei pra sala. Lá estava ele, assistindo novamente.

- bom dia - falou irônico e eu respondi um "boa noite" sem muita emoção. Bebi agua e olhei pra ele de canto de olho. Estava mexendo no celular e com uma bolsa de gelo diferente no pé.
- ainda não melhorou? - falei me aproximando dele. Notei que estava super inchado e ROXO. Muito roxo - cara, isso ta muito feio - falei aproximando do seu pé - você tem que ir no médico - olhei pra ele que deu de ombros
- não precisa, com gelo ele melhora
- você ta colocando gelo desde quando se machucou, melhorou? - falei não esperando resposta - vamos num hospital
- não... - o interrompi
- não foi uma pergunta, Rafael. Vou tomar um banho rápido. Separa seus documentos - ele me olhou - esteja pronto em 10 minutos.
Fui pro quarto, fiz minhas higienes, coloquei uma calca jeans e uma blusa de manga comprida ja que estava fazendo frio.




 Peguei minha bolsa, coloquei meus documentos, barras de cereais. Calcei uma sapatilha e saí do quarto. O Rafael estava sentado na cama dele com cara de dor. Ele vestia um casaco e uma bermuda.



- o que foi? - falei me aproximando da porta - quer ajuda?
- sim - disse fechando os olhos - pega meus documentos ali na segunda gaveta do armário, por favor
- tá - caminhei até no armário e abri a segunda gaveta. Tinha uns Papéis, fotos e envelopes la dentro. Passei o olho pelas fotos e vi que tinha uma em que estava ele, uma mulher e um homem que supus ser seus pais, sentados em um sofá. A foto parecia ser bem antiga.
- pega esse classificador transparente, por favor. - falou. Eu peguei e entreguei a ele.
- ta tudo aí? - perguntei
- sim. - peguei e guardei na minha bolsa
- então OK. Vou chamar o uber. - falei pegando o celular. - consegue andar?
- sim. - impressão minha ou ele ta economizando nas palavras?
- vamos pra sala, entao - falei e aguardei ele levantar. Levantar ele levantou, agora andar... - espera, eu te ajudo. Se apóia em mim - passei seu braço pelo meu pescoço e fomos devagar até a sala. Ele não conseguia encostar o pé machucado no chão, cada vez que tocava, gemia de dor. Tive pena.
Aguardamos o uber chegar sentados no sofá.

- o que aconteceu? - perguntei
- futsal
- isso eu sei - bufei - mas como
se machucou? Sozinho ou uma falta dura?
- um cara do outro time entrou com tudo... Coisas de bola - deu de ombros
- ele estava com muita raiva, pq
.. - olhei no celular e o uber estava próximo. - vamos, ele ta chegando - chamei o elevador, ajudei ele e descemos.


(...)


Chegamos no hospital particular em Uberlândia que aceita o plano de saúde dele. 

- senta aqui que vou pedir informação. - falei ajudando ele a sentar na sala de espera. Caminhei até o balcão de recepção e conversei com a recepcionista.
- aguarda um momento que vou verificar com o médico ortopedista disponível. - disse a recepcionista pegando o telefone.
- OK. - respondi e olhei pro Rafael que mexia na cabeça de um menino que aparentava ter uns 5 anos e estava ao lado dele. Sorri. Ele me olhou e eu caí em mim. Fiz um sinal de "pera" e ele piscou.

Ao meu lado, chegou uma mulher gritando desesperadamente por um médico para atender um amigo que estava desacordado. O recepcionista que a atendeu tentou acalmá- la e pediu para que preenchesse a ficha do rapaz que estava com ela

- você é familiar, parente, namorada? - perguntou o recepcionista
- sou amiga. A familia dele não mora aqui. - respondeu ela
- desculpa senhora, mas a senhora não pode preencher a ficha.
- mas se eu não preencher, ele não recebe o atendimento?
- apenas os primeiros socorros... Mas precisa de algum responsável para ele se manter aqui caso não acorde.
Meu Deus, que Absurdo!
Falei comigo mesma.
- tem! - falou a recepcionista tirando minha atenção do caso ao lado - só vou pedir pra que você preencha a ficha dele.
- tudo bem.
- o que você é dele? Familiar, parente... - perguntou ela. Não pensei nem duas vezes e respondi.
- namorada! - disse. Ela me olhou assutada com minha pressa.
- OK. Documento de identificacao original com foto, por favor. - falou e eu entreguei minha carteira de identidade -
- ta com os documentos do paciente? - perguntou e eu assenti - preenche esses campo aqui, por favor - falou apontando onde era pra ser preenchido no papel
Peguei os documentos do Rafael e preenchi. 
- sabe me dizer se vai demorar muito? - perguntei lhe entregando os papéis
- uns 10 minutos. Toma aqui a senha. - peguei, 409.
- OK. - olhei pro Rafael que agora estava com a cabeça encostada na parede por trás da cadeira em que estava sentado. Caminhei até ele.
- como você ta? - perguntei sentando na cadeira vazia ao seu lado.
- bem... - falou baixo
- ta doendo muito né ? - perguntei fazendo uma careta.
- muito - manteve o tom. Suspirei
- vai da tudo certo - dei uma apertadinha na sua perna. Ele sorriu sem mostrar os dentes. Nossa, deve ta doendo pra caramba. Dei uma olhada no seu pé novamente e continuava feio, inchado e roxo.
- o que eles falaram? - perguntou virando a cabeça para mim
- daqui a 10 minutos você será atendido por um médico ortopedista.
- obrigado


(...)


Rafael Oliveira Carvalho
Senha: 409
Sala: 10

Aparece no telão.

- é você, vamos - levantei e o ajudei a levantar. Caminhamos devagar até chegar ao consultório 10, Dr. Patrick. Chegando lá o médico ja estava na porta a nossa espera.

- oi oi - falou - parece que alguém aqui se machucou... - deita aqui - me ajudou a colocar o Rafael na maca - pode ir contando o que aconteceu..

Rafael foi falando como se machucou a medida em que o Dr. Patrick ia examinando ele. A cada toque no pé, o Rafael gritava, gemia e meu coração apertava.
Se tem uma área profissional que eu não me encaixo é a de saúde. Não consigo estourar espinhas dos outros com medo de doer, piorou o resto.

- aqui dói? - perguntou o Dr Patrick colocando a mão no Tornozelo do Rafael. Ele gemeu. - Acho que isso já respondeu.

Dr Patrick caminhou até sua mesa e anotou em uns papeis.

- e aí, doutor... - falei tirando as unhas que tanto roía da boca
- vou pedir uma radiografia.
- mas já pode nos adiantar alguma coisa? Foi muito grave?
- preciso ver como está o estado do osso, e isso só será possível depois da radiografia, infelizmente, terão que aguardar um pouco mais - falou e eu suspirei
- ele ta com muita dor... - falei calmamente
- eu sei.. Por isso vou colocar como urgente e acompanhar vocês até a ala onde tem o consultório de radiografia
- não tem como conseguir uma cadeira de rodas pra ele? Ele não ta conseguindo nem ficar em pé - falei e o Dr Patrick deu uma risadinha.

- acertou na namorada hein meu jovem? - disse pro Rafael num tom brincalhão. 
Rafael me olhou ainda com uma careta de dor e sem entender. Apenas assenti disfarçadamente - pode deixar que darei um jeito - se levantou - aguardem aqui.
Rafael sentou na maca e assim que viu o dr Patrick sumir de nossas vistas falou
- que historia é essa?
- precisei falar isso para poder preencher sua ficha - falei olhando pro pé dele. Roxo e feio.
- para de olhar!
- ta feio!
- eu sei!
- chama a atenção! pelo menos a minha
- to preocupado - falou. "Eu também", pensei
- com o quê? - mas que pergunta, Eduarda
- de ter sido grave de mais, de precisar operar...
- calma, vai da tudo certo. - falei me aproximando dele - Que cara FDP esse que te machucou hein?! Pqp - falei olhando pro seu pé e pela primeira vez na noite, ele sorriu largo mesmo em meio a dor.
Seus olhos castanhos quase verdes brilhavam enquanto sorria. Isso me faz sentir estranha e leve, como se eu fosse feita de penas e pudesse sair flutuando a qualquer momento.
- to até com medo de dizer quem foi, daqui a pouco você vai lá espancar o cara
- quem foi? Eu conheço?
- não, quer dizer, acho que não...
- quem foi?
- quando sair daqui eu falo
- af, só pq sou curiosa
- se controle, gatinha - falou e apertou meu nariz. Eu fiz cara de tédio pra ele, mas sorrindo bobo por dentro.
Besta.


(...)


Tiramos o raio X do pé do Rafael e sim, foi muito grave e vai precisar de operação. Nem preciso falar o quanto ele ta nervoso né?
Já são 23h e a cirurgia está marcada pra amanhã logo cedo. 6h.
Foi pedido para que eu fosse em casa buscar roupas e produtos de higiene pessoal para ele e depois retornasse ao hospital para passar a noite com ele. E assim eu fiz. 

Avisei ao Gustavo e pedi pra que ele não contasse pra mais ninguém, a pedido do Rafael e eu concordei plenamente. Assim ele fez. 

Cheguei no hospital 00h e o Rafael ja tinha tomado banho, cafe e ja estava com a roupa do hospital

- oie - falei entrando no quarto
- oi - sorriu de canto e sentou na cama.
- como está se sentindo? - falei me aproximando dele.
- a dor passou mais, por conta dos medicamentos.. - disse olhando pro pé - mas continua inchado
- ah, que bom! Olha, trouxe essa roupa pra você... Não sabia direito qual pegar, daí vi essa logo na frente do guarda-roupa e arrastei pra cá. Hum... Cuecas, escova de dente, pasta de dente, desodorante e perfume - falei tirando da mochila e guardando novamente. Coloquei a mochila no canto. Ele apenas me olhava com as sobrancelhas arqueadas - que foi?
- nem parece que queria me matar mais cedo - falou. Pqp, pra quê voce foi me lembrar disso? 

A situação dele estava tao crítica que eu não consegui sentir a mesma raiva que senti quando o vi junto com a vaca da Adriana. Fiquei calada e peguei o controle da TV. Liguei e sentei na poltrona que tinha próximo a cama dele. Ele só me observava.

- Duda... Eu não fiz nada. É sério! - falou calmamente
- já falei que não precisa falar mais nada sobre isso. - respondi sem olhar pra ele. 

Estava passando o programa do Fábio Porchat.

Uma enfermeira entrou.

- Boa noite - falou e respondemos - como está se sentindo? - perguntou pro Rafael
- a dor melhorou - respondeu ele - mas to me sentindo enjoado
- é normal, por conta do remedio... vim aplicar sua ultima dose - falou pegando uma seringa. Ele continuou sentado. Ela aplicou o remédio em menos de 5 segundos e eu fiz questão de não olhar. Tenho pavor a agulhas. Rafael pareceu não se importar - prontinho. Que Deus abençoe sua cirurgia. 
- pode falar um pouco dela? - perguntou
- ah, é simples e rápida. E você será operado pelo melhor cirurgião ortopédico de todo o hospital... Pode ficar tranquilo. O mais chatinho é a recuperação pq aí ja depende do paciente. Tem que fazer os exercícios com freqüência, fisioterapia... Quanto mais empenho, mais rápida será a recuperação - respondeu e vi que nada daquilo deixou ele mais calmo. - agora você precisa descansar. Uma boa noite de sono é imprescindível! - falou dando um tapinha amistoso no seu ombro
- obrigado. - agradeceu e eu também. - ei, mais alguem volta aqui hoje? 
- nao, eu fui a ultima. Como seu caso nao é muito agravante e voce precisa relaxar, nao tem necessidade de ficar vindo toda hora um.enfermeiro ver o seu estado. Voce ja ta muito bem acompanhado - falou olhando pra mim e sorrindo. Senti meu rosto arder de vergonha. Ela saiu logo em seguida
- voce não quer avisar a alguem da sua família? Ou prefere amanhã
- não - respondeu rapidamente. Olhei pro seu rosto. - prefiro hora nenhuma
- algum parente próximo... Só pra manter informado
- não tenho nenhum, deixa isso pra lá.

Falou sério e eu me calei.

Ele se deitou. Ficamos num silêncio insuportável por uns 15 minutos.

- obrigado poe tudo que você ta fazendo por mim - falou e eu olhei pra ele. Ele olhou em seguida pra mim
-  que isso, não to fazendo nada...
- ta sim. Fazendo muito!
- disponha 

Dei de ombros.
Comecei a sentir sono e frio. Muito frio. A camisa não estava dando conta do frio que saía acondicionado. Comecei a esfregar as maos uma na outra e colocá-las entre as pernas.

- frio? - perguntou Rafael. Assenti - vê se o controle não está aí por perto 

Levantei e fui procurar pelo quarto. Como não era muito grande, não demorei muito pra me dar conta de que não estava lá. Ao lado da cama do Rafael tinha uma mesinha com garrafa e copo para beber água. Lá também tinha um.panfleto que indicava algumas normas do hospital. Nela continha a refrigeração. Era padrão por conta das bactérias.

- quer meu casaco? Ta ali na mochila - falou e eu aceitei. Estava congelando. Peguei e joguei por cima de mim Na forma contrária a padrão. Na mesma hora o perfume maravilhoso do Rafael exalou. 
Coloquei meus braços na parte em que fica e me abracei.

- ai, melhorou. - falei e ele riu com o nariz - ta.com.sono?
- não... 
- você tem que dormir, descansar, relaxar... Se não vai pra mesa de operação cheio de olheiras, que nem um panda.
- mais do que ja tenho? - riu - impossível
- ah... Mas sua olheiras não são feias
- hãn? Chama a enfermeira ali, acho que ela esqueceu de te dar um remédio - falou e eu RI revirando os olhos.
- besta. Digamos que ela é um charme. Não gosto quando você passa corretivo
- você repara ? Bom saber!
- claro, fica com cara de gay - falei e segurei o riso
- só f*de hein- falou e eu gargalhei - e aquilo não é maquiagem. É um creme pra clarear. Nem gosto de usar aquela merda, é gordurosa.
- e pq usa entao?
- tava tendo resultado, mas tem que usar frequentemente. Não sou muito disciplinado pra isso.
- hum, sei. Olha, esse filme é bom - falei olhando pra TV. Estava apresentando o filme "Hush, a morte ouve"
- ah, ja assisti. É top
- não curto muito filme assim. Me da mais medo do que de terror. Mas gostei desse pq não assisti sozinha
- ele é Agonizante
- éee, nossa. Fica parecendo que você também não escuta. É uma sensação estranha. Tipo aquele perigo em alto mar, terror, sei lá... Sei que é alguma coisa em alto mar
- o que esquecem de acionar a escada da lancha? 
- siiiimm. esse mesmo!
- pânico em alto mar
- tive pesadelos com aquele filme, nossa - ele riu - prefiro minhas séries
- deve ter um péssimo gosto - riu
- ah pára, você assiste game Of thrones e ainda vem falar que tenho péssimo gosto pra séries?
- o quê? - falou se sentando - você é louca. Retire agora o que disse! - fiz cara de desdém - GOT é top! Melhor série. Reveja seus conceitos - deitou novamente
- horrível! Só faltou me dizer que também assiste The W...
- Walking Dead. Claro. - revirei os olhos - ah Eduarda, então você não passa de  rostinho bonito
- como se atreve?! -dei um tapa no seu braço
- aiiii meu pé
- desculpa!!!! - pausei - pera, bati no seu braço - ele gargalhou
- que idiota!!! Me senti culpada - falei cruzando os braços
- é muito boba... - se recompôs 
- vai pra merda
- ui, ficou Bravinha ela. Ta bom, parei
- acho bom! Vai assistir PLL, Once Upon a Time, La casa de papel, prison break
- prison break é F*da. Quer dizer, Michael Scofield é, meu ídolo
- por isso escolheu cívil né, hummm... Mas sim, eu comecei a assistir pq achava ele um gato. depois me apaixonei ainda mais. É gostoso de mais gente
- me poupe né
- nossa, aquele olhar, inteligente, aquele boquinha... 
- ta Eduarda. 
- ja sonhei varias vezes com ele, maravilhoso
- vou no banheiro e ja volto - levantou com menos dificuldade do que mais cedo e eu RI. Ele pegou a muleta e seguiu
- pára. Deita aí. - levantei também
- mas eu vou no banheiro
- quer ajuda?
- vai segurar pra mim? - falou maciosamente. Eu arregalei os olhos - brincadeira. - riu - precisava filmar sua cara - seguiu pro banheiro. Idiota. Falou que nem o pervertido do Nathan.

Peguei o celular e olhei o WhatsApp. Respondi umas mensagens do Gustavo e saí. Fui no instagram olhar a vida dos outros e o Rafael chegou que nem prestei atenção.

- oi? - falei
- hã? - falou ele
- falou comigo? - perguntei
- não, ta ficando doida - se deitou
- ta com sono?
- um pouco - ufa, pelo menos ja está mais relaxado - e você 
- estou..
- então vou te deixar dormir 
- esquenta não. Quanto menos eu dormir, melhor
- UE, pq?
- passo menos tempo nessa poltrona nada confortável. Pqp, é um hospital particular!
- mas a maioria dos pacientes vem de plano de saúde.
- mesmo assim, não deixa de ser particular. Pelo menos uma poltrona pra acompanhante digna né
- quer deitar aqui comigo?
- não né
- pq?
- não pode, Rafael, ta doido?
- mas não vai chegar mais ninguém. Dá pra nós dois aqui, apertado mas dá
- possui magoar seu pé
- voce não tem mau dormir...
- como você sabe?
- ja dormi com você, esqueceu? - riu e eu fiquei sem jeito - vem, deita aqui.
- acho melhor não...
- não vou te agarrar Eduarda. Melhor do que você ir parar na mesa de operação também
- ai credo! Ta repreendido em nome do Senhor Jesus - falei levantando e ele riu
- vem boba. Tira meu casaco, eu te esquento - falou seduzente
- vai se ferrar - ri - chega pra lá - falei dando um empurrãozinho nele - ah, deixa eu pegar o controle pra desligar a TV.

Fui até onde eu estava, peguei o controle.

- ja pode desligar. Vou tentar dormir também - falou e eu desliguei e apagamos a luz. Deitei ao seu lado
- isso não vai dar certo. Não cabe nós dois.
- claro que cabe. Chega mais pra cá - cheguei mais próximo dele - encosta po, ta com medo
- claro que não né, to com medo de tocar seu pé
- meu pé ta aq do outro lado, ja falei pra ficar tranquila.
- taaa - me cobri - nossa, que quentinho. Eu ali congelando e você no bem bom.
- quer minha dor também?
- não, obrigada, só a parte boa ja está de bom tamanho - RI.
- ta. agora para de falar, tagarela
- eu hein, nem falo assim
- aham, não fala pouco - coloquei minha cabeça no seu braço - amanhacerei com o braço dormente, mais uma vez
- ai, cala a boca Rafael. Não durmo com travesseiro baixo
- ah, é por isso? Achei que gostava de sentir o cheiro do meu desodorante - ri
- mas é muito idiota, meu Pai do céu. - ele me abraçou apertado e passei o meu braço por cima do seu peito. Uma das sete maravilhas do mundo: inspirar seu perfume, com seu corpo a milímetros de distancia do meu.
- ainda ta com frio? - sussurrou
- não - falei no mesmo tom. Instintivamente, comecei a fazer carinho no seu rosto com minha mao que estava sobre o seu peito - Rafa? 
- hum - respondeu
- me promete uma coisa?
- o quê? - levantei um pouquinho a cabeça para poder olhar pra ele. 
- para de brigar comigo? - falei e ele riu
- para de me provocar então
- eu não te provoco. Você que me provoca
- é que você se irrita tao fácil... Mas não, não vou parar de te provocar. Todas as nossas brigas acaba com nós dois dormindo juntos
- mas primeiro foi na minha cama, agora num hospital, tenho medo da próxima. - ele riu
- e vai ter próxima é? Hummm - me deu uma apertadinha
- não, não vai ter próxima - falei rindo e mordendo ele logo em seguida. Senti que ele se arrepiou
- não faz isso Eduarda .. - sussurou e eu estremeci. Não consigo me controlae quando ele me chama pelo nome, piorou sussurrando com seu corpo colado ao meu
- boa noite!
- não mereço nem um beijinho? - levantei a cabeça e beijei seu pescoço
- pqp, para de me provocar garota.
- sua bochecha estava longe - falei inocentemente... Fingindo, é claro - vamos dormir né?!
- acho bom.


(...)








terça-feira, 19 de junho de 2018

Capítulo 6



Eduarda on

Acordei no dia seguinte com o Rafael tentando sair da cama sem me acordar. Missão impossível pois estávamos tao grudados, parecendo que passaram cola super.
Ainda estava muito frio.
- desculpa! Não queria te acordar - falou baixo e desistindo de levantar
- ta tudo bem - falei ainda de olhos fechados e sorrindo sem mostrar os dentes - pra onde você vai?
- ia pro meu quarto. - disse - você não tem aula?
- só 9h, fica aqui mais um pouquinho- falei e o abracei colocando minha perna direita sobre ele. Ele demorou um pouco até retribuir o abraço
- huum... Voce ta tao quentinha - falou e me "apertou" . Não precisava olhar pra cara dele pra perceber que estava sorrindo bobo, assim como eu. Não sei o que aconteceu, mas parece que toda a imagem que eu tinha dele desapareceu junto com a tempestade. Também não sei o que estava sentindo, só sei que é muito bom
- obrigada por ficar aqui comigo - sussurrei. Ele não respondeu, apenas me apertou para mais perto de si.
Ficamos assim até meu celular despertar. Pqp, pq o tempo não para em momentos assim?
- acho q ta na hora de me arrumar - falei
- não. fica aqui, ta bom assim - falou e eu olhei pra ele. Estava com os olhinhos fechados e sorrindo.
- eu ate queria ficar o dia todo aqui, mas tenho aula de química tecnológica agora... A professora inventou um seminário em grupo. - revirei os olhos
- que mania você tem em revirar os olhos - falou e eu ri- pqp, odeio quando estou querendo te irritar e você faz isso ao invés de revidar
- ahhh é? Bom saber...
- vai usar contra mim?  - assenti - mas pretendo não brigar mais contigo... A não ser que toda vez que brigarmos, terminarmos assim, agarradinhos na cama - falou e eu dei um tapinha descontraído no seu peito - que foi? - falou rindo
- muito safado pro meu gosto - falei levantando passando por cima dele. Senti seus olhos me seguirem enquanto eu ia caminhando ate o guarda-roupa - perdeu alguma coisa aqui? - disse olhando pra ele
- nem vem bancar a valentona - disse levantando - você é um nenê - veio ao meu encontro e me deu um beijo na testa - vou deixar você se arrumar. Corvadia ficar te olhando de babydool
- haha, vai mesmo, não preciso mais de você - dei de ombros
- Previsão pra tempestade essa noite, passou na rádio
- Rafa amor... - rimos
- falsa - riu - leva a chave - falou e saiu do quarto fechando a porta. Me arrumei e fui pra aula.
Tentei me concentrar ao máximo na aula, mas a única coisa que conseguia entender de química era a minha com o Rafael.
Estava tao viajadona e sorrindo a toa que até a Geo percebeu
- da pra parar de fazer essa cara? A professora e a sala inteira ta percebendo - sussurrou pra mim
- oi? - virei pra ela
- depois quero saber o motivo dessa cara de boba - falou e voltou a prestar atenção na aula.
Nossa, será que ta tao na cara assim?
Melhore, Eduarda.
Foco.
Foco.
Foco.
Ahh, Rafael...
Suspirei.
Agora é sério, Eduarda. Foco total.
E foi assim durante  toda a aula.
Faltando 15 minutos para acabar a aula, percebo que a Adriana vai embora. Nem liguei, é bom q a sala fica mais silenciosa.
Recebo mensagem do João me chamando para ir com ele a um aniversário de um colega em.uma chácara próxima. Recusei, até pq meus planos era ficar em casa com o Rafael
...
Ele insistiu e disse para eu dar a resposta a ele mais tarde. Respondi um OK e voltei a focar na aula.
Faltando 5 minutos, reunimos o grupo q era composto por mim, André, Geórgia, Carol e Eric, fizemos uma reuniaozinha para ver quando e onde iriamos estudar e ensaiar para o seminário. Terminou a reunião eu fui correndo pra casa fugida da Georgia e claro, louca pra encontrar o Rafael.
(...)
Rafael on
Estava perto das 12h e resolvi fazer um almoço pra mim e pra Duda.
Duda, nossa... Nunca me imaginei chamando ela assim. Tinha repulsa por ela. A achava tao irritante, metida, mal educada, mimada... Me enganei totalmente.
Estava apenas de short esportivo quando ouço o interfone tocar.
Ue, Eduarda chegou mais cedo? Pensei
- quem é?
- Adriana, sou da turma da Eduarda
- ah, ela ainda não chegou
- eu  sei, mas vim falar com ela sobre o seminário de química, posso aguardar aí em cima? - realmente, a Eduarda comentou algo de tipo comigo, não vi problemas em deixar a Garota subir.
Só me arrependi quando abri a porta e vi quem era a tal Adriana. Pqp.
Essa garota deu em cima de mim desde a primeira vez que me viu no bar do Geraldo. Depois que virei monitor, só piorou.
Percebi que ela me secou com seu olhar, daí caiu a ficha de que estava sem camisa.
- entra, vou pôr uma camisa - falei dando passagem pra ela que fez questão de se esfregar em mim.
- não precisa, ta quente hoje, não é? - falou abrindo alguns botões da sua camisa mostrando parte dos seus seios e sutiã preto. Isso não vai prestar. - huum, cheirinho bom... posso dizer que a Eduarda tem um Rodrigo Hilbert em casa? - falou semi-cerrando os olhos e caindo na gargalhada logo em seguida. Rindo do meu desconforto, só pode - relaxa gato, eu não mordo - falou se aproximando - so se você pedir - fez uma voz que confesso, me arrepiou
- acho melhor você sentar e esperar a Eduarda... - falei me afastando
- só se você me ajudar a passar o tempo - passou sua unha pelo meu tórax - imagina tudo o que podemos fazer nesse sofá, hein...
- Adriana...
- shiu - colocou o dedo na minha boca - fica quietinho e pode deixar comigo
Pqp, ela ja ta perto demais e eu estou parecendo uma estátua, reage Rafael, reage...
Quando pensei em fazer algo, vejo a porta abrir e ... Tcharan... Eduarda! UFA!
Acho que eu não deveria ficar aliviado depois da cara que ela fez.
(...)
Eduarda on
Quando chego em casa dou de cara com a Adriana agarrada com o Rafael. Minha animação foi por água a baixo.
Suspirei para manter a tranquilidade aparente e Fechei a porta.
- vão pro quarto, pelo amor - falei revirando os olhos
- Duda, não é nada disso que você está pensando, a gente só tava...- falou Rafael E eu o interrompi
- me poupe dos detalhes - falei passando por eles
- só vim pedir uma ajudinha em cálculo 1 - disse Adriana com sua voz de biscate irritante. Rafael olhou pra ela confuso
- perai, você não falou que veio falar com a Eduarda sobre um seminário? - falou pra ela. Olhamos para Adriana aguardando a resposta dela. Estava mais do que na cara as intenções daquela vagabinha.
- como assim? - falei - nem somos da mesma equipe
- não? - falou Rafael - eu não to entendendo mais nada...  - colocou uma das maos na cabeça
- pede pra ela te explicar, pq eu ja entendendo tudo e estou indo procurar o que fazer.. - falei indo pro quarto
- Duda, espera - .disse Rafael - deixa eu explicar - segurou meu braço quando cheguei na porta do meu quarto saindo das vistas da Adriana
- me solta - falei puxando meu braço e fuzilando ele com o olhar e inspirando logo em seguida - olha, não precisa me explicar nada! - falei fingindo tranquilidade - nada, nada, nada. Não me deve explicações, até pq não temos nada, não somo nada. - falei erguendo as mãos - só tenta lembrar que eu to em casa e não faz mt barulho, vou estudar. Licença. - Fechei a porta.
Arggggggggg! Que ódio!
Que raiva dele, dela, de mim por se importar e acreditar que ele poderia ser diferente! Que droga!
Como foi se distrair assim, Eduarda?? Você está aqui pra estudar! Nada pode tirar seu foco. Lembra do esforço da sua família para que você pudesse chegar até onde você tá! Pelo amor.
Ouvi a porta da sala fechar e em seguida batidas na minha porta.
- Eduarda, abre, por favor... - disse Rafael
- estou ocupada - falei tirando a camisa
- não estávamos fazendo nada - talvez se eu chegasse minutos mais tarde, estariam encaixados no sofá , pensei, ela ja estava quase nua! Me poupe Rafael - eu nunca trouxe mulher nenhuma pra cá antes, piorou agora com você... Abre a porta, vamos conversar
Que piada!
Ele quer mesmo que eu acredite nisso? Mais uma vez, me poupe Rafael!
- ja disse que estou ocupada - falei tirando a sapatilha e em seguida a calça
Não houve mais batidas. Graças. Peguei o celular e respondi pro João que eu iria ao aniversário. Marcamos o horário em que ele iria me buscar e fim.
Fui tomar banho.
Vesti um short e uma camisa de manga comprida devido ao frio que estava sentindo.
Saí do quarto e fui almoçar opouco do estrogonofe que havia sobrado. Sentei na mesa e...
Eis que surge Rafael.
- pode conversar agora? - falou se aproximando
- ja falei q não temos nada pra conversar - disse sem olhar pra ele, apenas dando uma garfada na comida
- cara, aquela mina é louca - fiquei em silêncio - acredita em mim, por favor
- Rafael, na boa. Isso ta me cansando! Eu não tenho o pq acreditar ou desacreditar de você. Apenas divido o AP com você, não sou sua mae, sua dona, nada sua. Para com isso - falei mas pensando totalmente o contrário. Ele não falou mais nada
- não sei pq ainda me importo - falou rindo incrédulo - você ta certa. - não, eu não estou. Pensei
Ele não falou mais nada, entrou no quarto e fechou a porta. Fechei os olhos e suspirei profundamente.
Cinco minutos depois ele saí com a camisa na mao e uma mochila fina. Nao falou mais nada comigo.
- você vai sair? - perguntei. Ele parou na porta
- acho que não devo satisfações...
- só quero saber por conta da chave, ignorante - boa desculpa, Duda... Pq ele ta me tratando assim? Quem deveria estar brava com ele era eu, apenas
- se for sair, deixa embaixo do tapete - falou e saiu
Terminei de almoçar, lavei meu prato e fui estudar.
(...)
21h Rafael toca a campainha. Abro e ele entra meio que mancando com o par de chuteiras na mão. Me olha ja que estou toda arrumada pra festa
- ta tudo bem aí? - falei olha do pro seu pé. Estava avermelhado.
- machuquei no futsal, mas ta tranquilo - desviou o olhar de mim e foi direto pro quarto. Fiz o mesmo e tranquei a porta. Ouvi o barulho do chuveiro, deve estar tomando banho. Saí e comi um pão com um pouco de suco. Rafael saiu do banheiro apenas de toalha e foi direto pro quarto. Terminei de comer, lavei o que sujei e fui pro quarto terminar de me arrumar. Quando deu dez pras 22h o João me manda uma mensagem avisando que ja chegou la embaixo. Saio do quarto e o Rafael esta na sala com uma bolsa de gelo no pé.
Ele não fala nada, apenas me segue com o olhar.
- posso levar a chave? - pergunto, ele apenas assente. Abro a porta e saio fechando-a logo em seguida.



Desci e o João ja estava na frente do prédio me esperando dentro do carro. Quando me viu abaixou o vidro.
- Nossa, que isso hein... - falou e eu RI. Dei a volta e entrei no carro - sabia que ia mudar de ideia
- preciso sair! - falei - espairecer, ocupar a mente com coisa voa e desocupar com pessoas insignificantes - suspirei
- eita, o que houve?
- nada, mas e aí, essa chácara é muito longe?
- uns 30 minutos
- orran
- ah para, longe é da Bahia pra cá
- realmente - rimos
Chegamos na chácara, o João estacionou o carro na frente e entramos.
- Nem sonhe em me deixar sozinha hein - falei
- claro

Uns amigos dele assim que o viram, vieram nos cumprimentar e em seguida, nos levaram até uma mesa com uma mulher e dois rapazes. Ambos estudantes da UFU.
E mais uma vez, minha cidade e estado foram o centro das atenções.

- meta de vida: me formar, ficar rica e comprar uma casa na Bahia - disse a mulher. Carolina seu nome. É de uma cidade no interior do estado de Minas, mas ta morando em Uberlândia há 4 anos.
- muito lindo mesmo. - concordou um dos rapazes. Diego.

João viu que estava entretida converaando com o pessoal, levantou e saiu. Voltou em seguida com dois pratos de churrascos. Meus olhos brilharam. Sou megamente apaixonada.

O clima tava um friozinho gostoso e tocava um samba de leve. tinha cerca de 20 pessoas na chácara, grande parte, estudantes da UFU. A maioria veio me cumprimentar e desejar boas vindas à cidade. Agradeci simpaticamente.

Detalhe: não lembrei do Rafael. Quer dizer.. Só por um momento, quando a Carolina falou que começou a namorar o Fernando ( que também estava na mesa com a gente) depois que eles começaram a dividir o apartamento. Afastei ele da mente na mesma hora.

Ficamos comendo, bebendo, dançando... Sim, dancei, e dancei muitoooo quando colocaram Harmonia do Samba, Leo Santana e outros artistas baianos. Fizemos tipo um carnaval. Quando deu 5h da manhã o pessoal ja estavam beem cansados. Decidimos ir pra casa.

João deu uma carona pro Diego que é super legal e do estilo nerd. Amo isso.
Cheguei em casa pisando em ovos. Principalmente quando vi o Rafael dormindo no sofá da sala ainda com a bolsa de gelo no pé e a TV ligada, ele estava da mesma forma quando eu saí. a televisao estava na netflix com a série game Of thrones.

Olhei ele dormir serenamente. Nem parecia o galinha que estava se pegando com minha colega de turma piranha na sala de casa. Tava mais pro fofo que me acalmou durante a tempestade. Sorri de canto.

Ai Rafael, você é um porre!
Pensei. Suspirei. Deliguei a TV e fui pro quarto. Tomei um banho quente, coloquei uma blusa moletom, um shortinho fino e deitei pra dormir. 









quinta-feira, 7 de junho de 2018

Capítulo 5



No dia seguinte eu tive aula às 7:10 da manhã e uma apresentação surpresa em grupo , assunto: corrosão. Dessa apresentação, a melhor equipe teria que apresentar às 18h num evento que terá no auditório da faculdade para um dos diretores da unidade e alguns alunos de diversos cursos ofertados pela universidade. Alunos de 3 cursos irão fazer apresentações de determinado tema que tenha a ver com o seu curso. Minha equipe foi a Felizarda ( palavra utilizada pela professora, eu falaria "f*Dida" ) e eu seria a oradora, pois segundo a mal-comida da minha docente,eu tenho desenvoltura ao falar e dominei bem o assunto.
- mas professora, não temos tempo pra ensaiar! Podemos passar vergonha na frente de um dos diretores da UFU! Pelo amor de Deus, não faz isso com a gente... Não faz ISSO comigo - supliquei
- voces não vão passar vergonha. E você se saiu super bem. Ganharão algumas horas na carga horaria total
- mas...
- sem mais. - disse por fim - roupas sociais, por favor. Sejam pontuais, serão futuros profissionais. Modifiquem as fotos do slide e tirem mais uns textos. Coloquem o mínimo de texto possível. O suficiente para que possam lembrar do assunto durante a apresentação. A mesma, terá 10 minutos, nada a mais que isso, fui clara? - assentimos - ótimo  - falou e voltou com sua cara de carrancuda.

Xinguei ela de todos os nomes, mentalmente é claro. Como pode fazer isso com a gente? Comigo?
Sei que vou agradecer a ela la na frente, mas é muita responsabilidade ! Logo de cara assim!

Enfim, parei de lamentar pois isso não ia me levar a nada nem fazer ela mudar de ideia. Reuni o pessoal e fomos ensaiar e ajustar os slides na biblioteca. Saímos de lá 16h e eu fui cuidar da minha aparência.  Como não tinha nenhuma roupa social, fui à uma loja próxima com Geo e comprei um vestidinho social e sapato. Depois fui pra casa.

17h cheguei na faculdade e o pessoal da equipe também. Fizemos os últimos ajustes e nem preciso falar que estava super nervosa, né?
Quando faltava 30 minutos para iniciar a programação prevista, fomos para o auditório. La encontrei com a minha professora que fez comentários positivos a respeito do meu look. Segundo ela, ele era ousado, sexy, social e não era vulgar. Sobrou espaço até para um "estonteante". Agradeci e ela saiu.
O auditório ja estava cheio de pessoas vestidas socialmente.
Nossa equipe seria a segunda a se apresentar. a primeira: engenharia civil e a terceira: biotecnologia.

Ficamos sentados no fundo do auditório, de frente à entrada principal.
Avistei o Nathan e a seu lado vinha Rafael, num smoking impecável. Mais lindo, impossível. Primeiro, fiquei sem fôlego. Depois, senti meu coração dar cambalhotas no peito. Por fim, fiquei vermelha. Mas isso aconteceu quando os olhos de Rafael encontraram os meus, num instante de pura química. Desviei o olhar, desejando nunca ter visto Rafael na minha vida. Por que a existência dele tinha que mexer tanto com a minha? Não acreditava que estivesse apaixonada por ele. Não ainda. Mas havia alguma coisa, uma conexão, caso contrário eu não ficaria tão abalada cada vez que o visse. Ele seguiu seu caminho e sentou na frente, junto com o Nathan e uns outros colegas. Começou a apresentação.

Do curso de Eng. Civil, o Nathan que foi o orador. Ele se saiu muito bem, por sinal. Poderia até arriscar um 'perfeito'. Chegou a minha vez. Quando foi anunciado meu curso e o meu nome, tremi mais que tudo. Respirei fundo e subi no palco. Peguei o microfone e era notório o meu nervosismo. Neste mesmo momento, lembrei da conversa que tive com o Daniel, enquanto me arrumava para a apresentação. Ele me falou que quando estivesse nervosa, eu poderia fingir ser um personagem (um alter ego) e focar em alguém na platéia em que me passasse segurança (preferência, algum colega próximo pq se não ia ficar muito estranho fitar um desconhecido). Assim eu fiz. Passei os olhos pela platéia e o único olhar em que me passou total segurança era o que era lançado por um par de olhos castanhos esverdeados. Quando o encarei, recebi um sorriso lindo e encorajador. Inspirei e incorporei uma Eduarda diferente e assim iniciei minha apresentação.

A última garota, do curso de biotecnologia era ninguém mais ninguém menos que a Beth. Ou melhor Elizabeth. Juro que pelo nome, eu imaginava uma mulher com seus 40 anos, mesmo sabendo que ela era a quase-namorada  do Rafael. O que vi na minha frente foi totalmente o oposto. Vi uma garota que aparentava ter 22 anos, alta, magra, de cabelos ruivos compridos, olhos azuis e vestida por um vestido vermelho comprido exuberante. Parecia uma personagem da série nórdica Vikings junto com uma apresentadora do Oscar.
Senti uma pontada de inveja e ciúmes. Se eu tinha dúvidas do interesse de Rafael por mim, tudo que imaginava foi por água abaixo. Não passava de fruto da minha imaginação.
Elizabeth tinha a postura de uma princesa. Era bonita, inteligente. Entendido o pq Rafael se apaixonou. Só não entendi o pq não prosseguiu.

Passados os 10 minutos (tempo esse que nem vi passar), Elizabeth finalizou sua apresentação e o diretor proferiu algumas palavras para nós logo em seguida. Não me pergunte o que ele falou pq da forma q eu estava eu não lembraria nem o meu nome. Minha cabeça ainda estava no quase-casal Rafael e Elizabeth. 

Quando o evento foi finalizado, recebi mil e uns elogios de veteranos, funcionários e demais colaboradores da universidade. Minha equipe ganhou 60h extra e também receberam muitos elogios pelo trabalho. O pessoal estava aproveitando bastante. Eu também, mas para escapulir à francesa. Dei um perdido em todo mundo, até em Geórgia. Necessitava de solidão. Escapei até o jardim da faculdade e me esgueirei entre os canteiros de flores. Eu ainda não sabia o nome delas, mas estava apaixonada por todas. Uma coisa era certa: assim que voltasse para Bahia, teria meu próprio jardim na varanda de meu quarto. Baixei meus dedos até as pétalas e as acariciei. Um gesto quase automático, mas que me fez relaxar um pouco. E colocar a cabeça no lugar. Fazia frio do lado de fora do auditório. Senti meu corpo se arrepiar ao ser envolvido por uma brisa gelada. Estava na hora de entrar.
 - Por que está sozinha aqui?

 A brisa fez meu corpo tremer. Aquela voz injetou calor em minhas veias. Como eu poderia ignorar o dono dela? Mudei de posição para não olhar para ele. Não queria que ele lesse em meus olhos toda a minha agonia.
- Vim tomar um ar, respirar um pouco Estou cansada.
- Está frio e seu vestido é bem... pelado -Ele notou - Vista meu casaco.
- Não! - quase gritei - Quero dizer, não precisa. Já vou entrar.
Rafael fingiu que não me ouviu. Tirou o paletó do corpo e me envolveu com ele, sem minha permissão. Não sei o que mexeu mais comigo: 1, seu gesto, 2, o cheiro dele no casaco, ou 3, o breve encontro de seus dedos com minha pele.
- você está bem? - ele quis saber, procurando meus olhos.
- Só cansada, como já disse - suspirei, inalando ainda mais o aroma masculino que exalava de sua roupa. Rafael sorriu.
- Caso você não saiba, fiquei orgulhoso de ver você hoje. Não sei se aguentaria firme, como você fez. O cansaço agora é mais que natural. Principalmente psicológico.
 Para tudo! Rafael estava me elogiando! Ele percebeu meu espanto e continuou: - É sério. Esteve demais, Duda.
- Obrigada. Vindo de você, esse elogio tem uma conotação muito maior
- Como assim? - ele franziu a testa - Vindo de mim?
 - Ah, não se faça de bobo. Temos nossas diferenças, não é?
Ele ficou ainda mais sério
- Temos, é? Não sabia.
Pronto! Agora, aquela.  Como se nunca tivéssemos discutido nem nada.
- Rafael, por favor... Lembra quando a gente se conheceu? Lembra da cena no ap, das palavras que me disse? Que nao ia com a minha cara? Dos insultos na frente dos meninos? Garanto que não estou inventando
- São águas passadas, Eduarda. Eu não conhecia você direito - justificou-se e fez aquilo de novo, quero dizer, o que sempre fazia quando ficava desconfortável: passou a mão freneticamente pelos cabelos, bagunçando-os um pouco - Mas agora tudo mudou
- Mudou, é? Que bom! - Tentei parecer tranquila, indiferente. Mas meu peito palpitava. Que espécie de conversa estávamos tendo? Seria minha imaginação ou havia um clima de flerte no ar?
- Claro! - ele garantiu - Temos saído juntos e eu pude ver que você é uma mulher autêntica. Gosto do seu jeito, da sua maneira natural, dos seus ataques de sinceridade. Você é divertida e me faz rir.
Corei. Aquilo não era uma declaração de amor nem nada, mas servia. Rafael gostava de mim! Então, não era um avanço? Andei um pouco entre as flores, afastando-me dele para tomar fôlego. Eu havia acabado de ver todo tipo de qualidade da quase-namorada dele e um dos porquês todos gostavam dela. Me lembrei da forma com que o Gustavo me falou dela quando fomos almoçar juntos. Estava com minha autoconfiança abalada. A pseudo personagem já havia ido embora e eu Não tinha nada que ficar praticamente flertando com Rafael pelo jardim. Se eu fosse mais esperta daria no pé o quanto antes. Mas quem disse que eu era? Quis ficar para ver aonde tudo ia dar.

Meus pés latejavam dentro do sapato novo de salto dez. Precisei me sentar um pouco para dar conforto a eles. Ainda bem que o jardim era contornado por bancos. Senti uma corrente de vento frio, o que me fez aconchegar ainda mais no Casaco dele.
- obrigada pelas palavras, de coração. - sorri - olha Rafael, desde quando cheguei aqui, nao esta sendo facil - desabafei - adaptação, as pessoas, os desafios...
Rafael sentou-se ao meu lado, segurou minha mão e ficou massageando o dorso com o polegar. Minúsculos cristais de gelo acertaram minhas entranhas, fazendo-me ter um calafrio, uma onda súbita de prazer.
-Eu sei -ele disse, bem baixinho.

Apesar de parecer segura, minha voz saía meio entrecortada devido ao frenesi que os dedos de Rafael estavam provocando em meu corpo.

- muito difícil deixar tudo pra trás. Tudo mesmo! Minha familia, meus amigos o idiota do... - pausei

Olha só quem eu estava prestes a mencionar! Eu e minha língua solta. Rafael deduziu logo, pois arqueou uma sobrancelha, daquele jeito sexy que me matava, e sorriu meio de lado, elevando a covinha no canto da boca.

- Sei, o idiota do Tiago. De quase-namorado a idiota. Gostei da mudança de posto.

Fiquei muda. Eu que não ia falar sobre o Tiago justamente com Rafael. Preferiria ter chiclete colado em meu cabelo.
- Vai ficar calada?
- Totalmente. Sobre esse assunto eu me recuso a falar. - Fingi passar um zíper na boca.

Rafael subiu as carícias da mão para o pulso. Aquilo era tortura. Imagina se alguém resolvesse aparecer por ali. Entenderia tudo errado. Bom, eu mesma não estava entendendo muita coisa...

- mas Deus é tão generoso comigo que colocou pessoas maravilhosas no meu caminho. O Gustavo... Maravilhoso. A Geórgia nem se fala! Olha o que ela fez ccomigo - Levantei e contornei meu corpo com as mãos. Caso não tenha entendido, estava me referindo a meu visual elegante e fashion.

-Atesto para os devidos fins que as intervenções da Geórgia são de muita valia - brincou.
Os olhos dele adquiriram um brilho felino ao visualizarem minha aparência. Senti meu rosto arder. Eu estava me arriscando demais ficando sozinha com Rafael por tanto tempo naquele jardim.
- Você não contou o que pensa de mim -ele protestou, batendo com a palma da mão no banco, exigindo que eu voltasse a me sentar a seu lado - Babou no Gustavo, elogiou o povo todo da faculdade. Não sobrou nada para mim? - quanto drama.

 Eu poderia dar várias respostas. Ou nenhuma. Mas eu precisaria buscar a verdade lá no fundo de minha alma e estar de peito aberto para aceitar a realidade. Quem procura demais acaba encontrando e eu tinha receio de não gostar do que veria.
-Eu ainda não tenho uma definição específica a seu respeito - Resposta mais em cima do muro impossível. Rafael se sobressaltou.
- Sério? Nossa, estou me sentindo rejeitado.

Bem feito. Quem mandou ser tão volúvel? Ou bipolar, na pior das hipóteses.
- Sério, Rafael. Embora a gente esteja tendo uns momentos legais, como agora, por exemplo, ou quando a gente sai por aí e você me apresenta lugares lindos, há momentos em que você se retrai, fica de poucas palavras, vago, até rude. Ainda não consegui te desvendar direito.
- isso quer dizer que você está tentando? - arriscou ele - Tentando me desvendar? -Ah, não fique convencido! - Voltei a ficar de pé - E está na minha hora. Nosso bate-papo foi ótimo, mas tenho que ir.

 Não consegui ir muito longe. Rafael prendeu meu braço com seus dedos fortes e me fez ficar paradinha perto dele. Depois, esticou-se até ficar de pé, a dez centímetros de mim.

Eu sou alta. Para a maioria das mulheres no Brasil, ter 1,70 metro é um privilégio. Por sorte, Rafael deve ter uns bons 10 centímetros a mais, senão estaríamos cara a cara, com as bocas tão próximas que seria impossível não tentar beijá-lo.

 - É impressão minha ou você está tentando fugir de mim, Eduarda?- questionou Rafael, malicioso como ele só.
- é impressão minha ou você está tentando me confundir, Rafael?- devolvi a pergunta, mas não esperei a resposta.

 Soltei meu braço, retirei o paletó de meus ombros (mesmo sofrendo muito para tomar essa decisão, pois ele já estava se tornando parte de meu corpo) e tratei de fugir dali. Rafael era uma ameaça à minha saúde mental. (........................) No outro dia, tive aula durante a manhã inteira. Cheguei em casa morta de cansaço. Tomei banho, estudei um pouco de álgebra e funções, acabei dormindo por cima dos livros. 
Acordei 20h com barulhos vindo da sala. Estavam batendo parabéns pra alguém que não consegui escutar muito bem o nome. Tinha vozes de mulheres também. 
Levantei, arrumei os livros, tomei banho e comi um biscoito que tinha na minha mochila mas ele não matou minha fome, até pq, não tinha almoçado, mas o que eu menos queria era ter que abrir a porta e falar com o clube do Rafinha e com.o próprio Rafael. Tenho evitado ele desde ontem a noite.
Liguei para minha mãe, Daniel, e outras pessoas que estava morrendo de saudades. Parei de falar no celular quando ouvi que estavam indo embora. 
Assim que todo a saíram, dei um tempinho e saí. Rafael estava terminando de lavar a louça.



 Abri a geladeira sem falar com ele, quando ele ouviu, se assustou.

- boa noite pra você também - falou depois do susto.
Ergui as sobrancelhas

- olha só, ele fala as palavras mágicas... - tirei uma garrafa de água da geladeira e caminhei até a pia para pegar um copo no escorredor. Ele apenas bufou

- tá, Eduarda - cacete, para de falar meu nome! Não com esse sotaque e nem com essa voz seduzente. - guardei um pedaço de bolo pra você, ta numa vasilha dentro do microondas - me engasguei com a água e comecei a tossir - você ta bem? - me olhou
- você fez o que? - falei em meio a tosse. Ele revirou os olhos - nossa, chega me engasguei - recuperei a fala 
- se não quiser, não come
- para o mundo que eu quero descer. Por isso que o tempo ta feio assim - falei guardando a garrafa de água na geladeira e indo até o microondas. 
Quando abri, tinha um pedaço generoso de torta de chocolate. 
- não tá envenenado não né? - falei e ele riu com o nariz
- cara, você deve mesmo me achar um monstro, né? - falou se virando para mim. Caminhei ate o escorredor novamente para pegar uma colher.
- tipo isso - sorri igual o Jim Carrey sem mostrar os dentes. O semblante do Rafael mudou na mesma hora. Era um semblante diferente. Ele não fechou a cara, nem fez cara de tédio e sim de triste. Percebi que tinha pegado pesado dessa vez. Tudo bem, pra qualquer outra pessoa aquilo poderia soar como brincadeira, o que era pra ser, até pra ele mesmo, mas não naquele dia. Ele pareceu sensível demais, tanto que nem me respondeu nada. Virou, terminou de lavar o último copo da pia, enxugou as maos e foi pro quarto. 
Eu fiquei mais do que arrependida e comi o bolo todo pra afogar minhas mágoas. Lavei a vasilha e fui pro quarto. 
Quando entre no WhatsApp, vejo uma mensagem do Gustavo.
"Ei, estivemos aí pra comemorar o niver do Rafael e tu tava dormindo!! Que p*rra de sono é esse, mano. Batemos na porta e voce nada de ouvir"
P*ta merda! 
Chamei o cara de monstro no dia do aniversário dele! Vacilo em Eduarda. O que ta acontecendo contigo, garota?!
E agora? O que eu faço? Mandeu um audio pro Daniel pedindo um help!
Não demorou muito ele me respondeu.
"Vai pedir desculpas e mostre que se importa! Você não é assim, Duda. Pelo amor, controle sua língua. 
To na aula, depois nos falamos, beijoo!"
Ele ta certo. Não sou assim. 
Criei coragem e fui falar com ele. A porta do quarto estava fechada. Quando eu ia bater, ele abriu com o mesmo semblante.
- alguma coisa? - perguntou
- s-sim, é... - pausei - desculpa pelo que falei...
- ah, tranquilo - falou calmamente saindo do quarto e indo até a sala. Caramba, será que doeu tanto a ponto dele não ter animo nem pra me xingar? Ou me destratar? Eu apenas o observava. Estava muito estranho. Ele me olhou, ja que ainda estava parada na porta do seu quarto - mais alguma coisa?
- Rafael, é sério. Não sabia que ia se magoar...
- magoar? Quem ta magoado aqui? - olhou para os lados - só se for você, pq eu To de boa. - deu de ombros
- até acreditaria se seus olhos não dissessem o oposto.. - ele riu
- deu pra ser vidente agora? Me erra, vai - entrou no quarto passando por mim e exalando seu perfume maravilhoso
- Rafael...
- Eduarda, na boa. Vê se eu to na esquina - segurou a maçaneta da porta - da licença? - suspirei e fui pro meu quarto - obrigada, madame - falou e trancou a porta do seu quarto. Fiz o mesmo.
Como pode ser tao arrogante? Fui na humilda falar com ele e é um "vai ver se to na esquina" que recebo.
Ai que vontade de mandar ele tomar naquele lugarzinho! 
Calma Eduarda, respira. Da um desconto, hoje é o aniversário dele, talvez seja mais um longe da família, vamos ser compreensiva...
OK, mas precisava ele me tratar daquela forma? Pqp
Se bem que isso ja é normal, ja deveria estar acostumada.
Mas não, eu não estou! Quem ele pensa que é pra falar comigo dessa forma? 
Tá, Eduarda, chega. Vai dormir, amanhã ainda é sexta! Ainda tem aula. E foi isso que tentei fazer, dormir. 
Mas não consegui.
O tempo estava muito feio, trovejando e relampejando. Morro de medo. Lembro que quando era inverno eu não dormia sozinha na minha casa por conta do barulho das trovoadas. Me lembrava de quando era pequena e morava em uma casa bem simples de telha, teve uma madrugada que ventou e choveu tanto que  uma parte da telha soltou e caiu na casa do vizinho, fazendo um barulhao. Eu pensava que era o fim do mundo e chorava desesperadamente enquanto ajudava minha mae e minhã irmã a tirar os móveis do lugar em que estava sendo molhado Por conta da lacuna que se formou.
Liguei a luz do quarto com dificuldade pois minhas maos ja estavam tremendo a cada trovoada e clarão. A desvantagem de morar no último andar do prédio. 
As paredes balançavam muito e parecia que tudo ia desabar. O basculante do banheiro não queria fechar, o que fez parte da chuva entrar e ficar me molhando a parte de dentro também. Comecei a entrar em desespero.  Peguei um guarda-chuva e abri no banheiro fazendo com que a agua que entrava pelo basculante caísse nele e em seguida no chão. Eu ja tava encharcada. Não conseguia alcançar de jeito nenhum o basculante e a corrente que tinha pra puxar havia emperrado. Sentei no chao e comecei a chorar. Pensei em bater no quarto do Rafael, mas o que eu ia falar pro cara que chamei de monstro e estava p da vida comigo? "Oi, tudo bem, vamos ficar batendo um Papinho na sala até a tempestade passar? Vem cá, me conta o pq de você ter escolhido engenharia civil? Me diz pq voce é tao chato e sexy ao mesmo tempo?"
Não, não posso fazer isso. Memorias da infância começam a surgir com mais intensidade bem como o meu choro. Ouvi batidas na porta e o Rafael me chamando. Respondi de forma inaudível torcendo para que ele tenha escutado os meus pensamentos. Não tive forças pra falar, piorou pra levantar. Minhas pernas estavam bambas.
Ele me chamou novamente e eu soltei um "entra" tao forte que ele entrou com tudo. Eu ainda estava no chão abraçando minhas pernas, molhada, tremendo e chorando.
- o que aconteceu? - correu ao meu encontro me levantando do chão. Eu não conseguia falar nada, apenas chorar - Eduarda, calma, ta tudo bem - falou calmo e fez o que nunca imaginei que ele ia fazer na minha vida: me abraçou. Nem ligou pelo fato de estar molhada e ele com uma regata. Outra trovoada e Eu o apertei com toda força do universo. - você tem medo de tempestade?! Nossa. - disse enquanto descia e subia sua mao pelas minhas costas. Ele olhou pro banheiro e viu o armengue que eu havia feito com o guarda-chuva. - vou fechar o basculante - falou se afastando
- não - falei. Saiu mais como um sussurro de súplica. Balançava a cabeça negativamente e impedia que ele se afastasse 1 milímetro de mim
- eu não vou sair daqui, calma - disse docemente acarinhando meus cabelos
- não, por favor... - falei suplicando
- vem comigo então - segurou a minha mao e me levou até o banheiro. Em menos de 3 segundos ele fechou o basculante enquanto eu segurava sua camisa. Era como se eu estivesse o prendendo a mim por uma algema. - pronto. Agora se enxuga - pegou minha toalha empendurada no banheiro e me secou superficialmente. Outro estrondo e eu apertei sua mão. - calma, Duda. Se você não se secar pode pegar um resfriado.. 
Ele foi até o meu guarda-roupa, pegou uma roupa fina para mim e me entregou no banheiro
- toma, põe essa. Eu vou estar aqui fora te esperando - falou me entregando a roupa
- promete que não vai sair? - falei com meus olhos implorando por uma resposta positiva. Ele sorriu e respondeu
- prometo.
Encostei a porta mas não tranquei. Tirei a camisa e mais outro estrondo. Segurei na maçaneta e Rafael gritou: eu to aqui! 
Ouvir aquela voz trouxe um pouco de conforto para mim. Vesti a blusa e o short do baby dool com um pouco de dificuldade pois tremia que nem vara verde. Assim que acabei, abri a porta e o Rafael estava em pé de frente ao meu armário olhando umas fotos que estavam coladas na parte interna da porta. Quando me viu, sorriu e segurou minha mão. 
- pronto, agora deita aqui. - me guiou até a cama. A cada estrondo eu apertava sua mao fortemente. Estava segurando ela com as minhas duas. Deitei na cama, no canto da parede E ele soltou da minha mao para poder me cobrir com o cobertor. 
- fica... ?-  pausei - por favor
Ele apenas me olhava como se eu fosse a coisa mais frágil do mundo. Sorrindo respondeu:
- fico. 
E deitou ao meu lado se cobrindo com o mesmo cobertor. Se no dia anterior alguém descrevesse essa cena, eu ia mandar enternar num hospício. Desliguei a luz, pois onde eu estava era mais próximo ao interruptor.
Apoiei minha cabeça no seu braço direito e a minha mao direita no seu peito. Com sua mão esquerda, ele fazia carinho no meu braço e intensificava a cada vez que trovejava e ele sentia meu corpo enrijecer. 
- eu to aqui - sussurrava. 
Era o que me confortava.

(...)
Rafael on
Não sei pq ainda me importo com o que essa garota fala. Na boa. Depois dela vir toda arrependida pedir desculpas Fechei a porta do quarto e comecei a estudar para ocupar minha mente. Funciono melhor de madrugada. 
Passei um tempo estudando até que ouço uma trovoada cavernosa. Parecia que tinha algum prédio sendo desabado, até eu me assustei. Guardei as coisas e fui ao banheiro. Cheguei la e estava entrando agua pelo basculante. O bom é que ele fica na parte do box, então não tem tanta importancia se molhar. Mas aí lembrei do basculante do quarto da Eduarda. Com certeza ela não vai alcançar e nem acertar fechar com a correntinha que usa para abrir. Quando saí do banheiro, vi que a luz do quarto dela ainda tava acesa. Resolvi  Bater na porta do quarto dela. Bati e chamei a primeira vez mas não obtive resposta. Deve estar dormido. Essa menina só dorme, eu hein. 
Ia voltar pro quarto quando senti de chamar mais uma vez. Quando bati, ela falou "entra" tao desesperadamente que pensei logo o pior e por impulso, entrei de uma so vez.
Quando olho pra ela, chega a dar dó. Sentada no chão, se abraçando como quisesse se proteger de algo, toda molhada, parecendo uma criança indefesa.
Pergunto o que aconteceu mas ela só chora e treme. Levantei ela e fui esmagado em um abraço. Queria saber o que foi que tinha acontecido. Será que peguei pesado demais mais cedo?
Um estrondo de trovoada e sinto seus ossos tremerem... A tempestade!
Ela deve ter algum trauma forte, pq nunca vi ninguém naquela situação por conta de trovões, raios e relâmpagos.
Com dificuldade, me soltei dela para ir fechar o basculante. Eduarda me seguia e segurava a minha camiseta como se eu fosse a coisa mais importante do mundo. Gostei dessa sensação.
Peguei uma roupa para ela e aguardei ela se trocar. Reparei em umas fotos do seu guarda-roupa. Uma parecia que era em uma instituição de ensino pois estavam de farda, tinha varias pessoas aparentando ter a mesma faixa etária que ela e um cara com cara de professor. Ouve mais outro estrondo que tremeu as paredes do quarto. Ouvi o barulho da maçaneta e falei pra ela que ainda estava no quarto. Voltei a olhar as fotos. Tinha uma dela com o que parecia ser a familia dela na praia, outra dela com um homem.. Seria o namorado dela?
E dela com uma garota. Olhei pra porta do banheiro e Lá estava ela com aquele babydool super sexy. Me controlei para não lhe agarrar naquela hora.
Chamei ela para deitar e ela me pediu pra dormir com ela... Eu to sonhando ou o q? Como pode isso? A garota que eu impliquei desde a primeira vez que vi, que me tratava super mal, que me chamou de monstro quando tentei ser legal, estava fazendo de mim o seu porto seguro. Explica isso Darwin, Newton, Einstein..
Não tive forças físicas nem psicológicas para recusar. O que eu mais queria era protegê-la do que quer que seja que esteja atormentando ela. Deitei e ela se acomodou em mim num encaixe perfeito. Fiquei fazendo carinho nela enquanto ela tentava relaxar. Nunca imaginei que uma pessoa de personalidade tao forte quanto a dela, tao intimidadora, aquela que bate de frente pudesse também se revelar uma pessoa tao frágil quanto qualquer outra. Não a EDUARDA.
Mais um estrondo, mais um corpo tenso.
Acarinhei seu braço e cabelo e sussurrei : estou aqui.
Senti seu corpo relaxar imediatamente.
Ah, Eduarda!












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